quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

TE SEGUE





Segue teus passos quem, incauto,
teus versos não leu,
quem, ausente, não bebeu do teu olhar,
não sentiu o sabor, amargo, desta taça em que pousaram.

Segue teus caminhos, desatento,
quem não mede teus gestos,
quem não sente tuas asas,
quem não sabe chorar.

Segue teus dias quem, em desalento,
se deixou amordaçar,
quem, ferido,
já não sabe voar!



Postado originalmente em 14/11/2009







terça-feira, 12 de dezembro de 2017

PABLO NERUDA





Foi nessa idade que a poesia me veio buscar
Não sei de onde veio
Do inverno, de um rio
Não sei como nem quando
Não, não eram vozes
Não eram palavras
Nem silêncio
Mas da rua fui convocado
Dos galhos da noite
Abruptamente entre outros
Entre fogos violentos
Voltando sozinho
Lá estava eu sem rosto
E fui tocado.






sábado, 9 de dezembro de 2017

LYA LUFT - DESATINO



(Do livro A casa inventada - LYA LUFT)


A vida, como a ficção,
é um teatro de desatino.
Meus personagens:
amantes, suicidas, sonhadores,
seres rastejantes, criaturas aladas,
simples humanos,
- crianças e seus segredos.
O bem, o mal, o riso, o esgar,
a procurada morte,
a sorte,
a sombra.
(Na beira do palco, como estrelas,
penduro palavras: esse
é o meu destino).




sábado, 2 de dezembro de 2017

ROMANCE




Nem sempre o
coração
fica tão perdido, sem
respostas.

Ninguém nunca
perguntou
se existo, sequer!

Agora,
quando me perguntas
tudo,
parece que te
encontro.

E a mim também...



quarta-feira, 22 de novembro de 2017





Relembra-me...

e terás um sorriso na boca
e um brilho nos olhos
que se transformarão
no melhor momento

deste dia...

Quem sabe de toda a vida!!!





A.C. Rangel



domingo, 19 de novembro de 2017

HERANÇA



Este é o velho trem
que no passado levava,
sempre,
muitos sonhos,
muita esperança,
muitas desilusões.

Espalhava sentimentos.
enquanto engolia trilhos.

Deixou herdeiros quando
parou definitivamente de
rodar.
Do seu testamento recebi,
sozinho,
todas as desilusões!




sexta-feira, 17 de novembro de 2017

CARLOS DRUMOND DE ANDRADE




OS  OMBROS  SUPORTAM  O  MUNDO



Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho
e o coração está seco.

Em vão as mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.

Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.



sexta-feira, 10 de novembro de 2017

AFOGADOS



Nem mesmo você,
 sinto,
percebe a vida a 
te rodear,
equivocada ao não me perceber
em ti.

Ondas enormes em praia tranquila...

Mãos secas
em corações afogados...

E eu ainda te respiro.
Vivo!









sexta-feira, 3 de novembro de 2017

NUNO JÚDICE



EXERCÍCIO



Pego um pedaço de silêncio. Parto-o ao meio
e vejo saírem de dentro dele as palavras que
ficaram por dizer. Umas meto-as num frasco
com o álcool da memória, para que se
transformem num licor de remorso; outras,
guardo-as na cabeça para as dizer, um dia,
a quem me perguntou o que significavam.
Mas o silêncio de onde as palavras saíram
volta a espalhar-se sobre elas. Bebo o licor
do remorso; e tiro da cabeça as outras palavras
que lá ficaram, até o ruído desaparecer, e só
o silêncio ficar inteiro, sem nada por dentro.




domingo, 29 de outubro de 2017

AINDA ASSIM



Não me gosta.
Se enganou.
Pior a emenda que o soneto.

Ainda assim,
as ansiadas chuvas chegaram...



quarta-feira, 25 de outubro de 2017

ALICE VIEIRA




Entre a saliva e os sonhos há sempre
uma ferida que não conseguimos
regressar

E uma noite a vida
começa a doer muito
e os espelhos donde as almas partiram
agarram-nos pelos ombros e murmuram
como são terríveis os olhos do amor
quando acordam vazios.




segunda-feira, 23 de outubro de 2017

FINAL DE TARDE





Mal escurece
e tudo se faz verdade...
A dura verdade dos sons
sem eco,
das noites geladas em
pleno verão,
dos gritos mortais,
dos vazios
gerais,
cansaço infinito...

Sem vogais!





sábado, 21 de outubro de 2017

O CADERNO




este caderno abre-se
para gritar o quê
pode ser lido na sua
quinta página.
e é um amor tão
grande,
e uma promessa tão pura que
nunca
poderia dar certo.

fecho o caderno!





sexta-feira, 13 de outubro de 2017

DÚVIDA



Por quê buscar no
vértice desta
sombra
o que perdi em
dia tão claro?





domingo, 8 de outubro de 2017

VERSOS DO PRISIONEIRO - 2 (MIA COUTO)




Não é de amor que careço.

Sofro apenas
da memória de ter amado.

O que mais me dói,
porém,
é a condenação
de um verbo sem futuro.

Amar!



sábado, 7 de outubro de 2017

CAMINHANDO



Mantenho este trilho,
esta caminhada,
faça chuva, faça
sol...

As pedras, piso-as
quase sempre com
dor.

O destino,
que nem sei se haverá,
vai me dizer
se valeram as mágoas...





quarta-feira, 4 de outubro de 2017

ROSANA CHRISPIM



ELOQUÊNCIA


o silêncio fala
às vezes 
fala demais
e até fala
o indizível
o que não há
o que não deve

o silêncio por vezes cala.







sexta-feira, 29 de setembro de 2017

OCEANO...


Resta-me este pequeno pedaço de papel onde posso, ainda, lembrar de você.
Você, que a vida me tomou, que os dias passados engoliram e que eu,
navegante sem rumo, jamais esqueci...

São as regras do mar, deste oceano enorme, que se vinga de mim por ser,
meu amor, muito maior do que ele...





quinta-feira, 28 de setembro de 2017

CARLOS DRUMOND DE ANDRADE



OS  OMBROS  SUPORTAM O MUNDO



Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abriras.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.

Alguns achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.







sexta-feira, 22 de setembro de 2017

CARLOS NOGUEIRA PINTO



Morrer é como entrar definitivamente na felicidade
dos frutos
com um flutuar de pano branco
a obliterar a memória.

É póstumo o silêncio enorme
que vier.






quinta-feira, 21 de setembro de 2017

IDOS



São tardes vazias.
Ou dias...
Canções sem rima,
trovoadas,
sonhos vazios,
cenho cerrado...
Não é amor.

É passado!





sábado, 16 de setembro de 2017

ROTINA




Gastei meus dias.
Derradeiros.
O fim me parece ao alcance
destas mãos.
Tão fracas, tão vazias.

Gastei meus dias.
Desperdicei-os...

Como quem joga milho
aos pombos...
Apenas!



terça-feira, 12 de setembro de 2017

"IRMA -TODO MUNDO DEVERIA PASSAR POR UM FURACÃO"



AUTORA  DESCONHECIDA


Todo mundo. Sem exceção. A gente tem manicure marcada,
o frango descongelado, mas nenhum cotidiano sobrevive a um 
furacão.
E a gente só sabe disso quando vive um.

Todo mundo deveria passar por um furacão, para ter que
escolher entre ir ou ficar. Correr ou esperar. Empacotar
ou respirar.
Com exceção das evacuações mandatórias, penso que
não tem escolha certa e escolha errada.
Mas penso que todos deveriam parar para pensar:
"Vou ou fico?"
"Tenho para onde correr?"

Todo mundo deveria passar por um furacão e falar para
as pessoas com quem vive:
"Eu quero ir", "Eu não quero"; "Aqui é seguro";
"Mas eu não me sinto segura".
"Então eu vou sozinho"
"Eu não fico sem você."

Todo mundo deveria passar por um furacão
para falar o que sente,

Todo mundo deveria passar por um furacão,
pegar a estrada e perceber que esqueceu
aquele documento importante para,
em seguida, se dar conta que aquele documento não tem
a menor importância.E o que importa está aqui,
no banco de trás, reclamando do calor,
no banco ao lado,
exagerando no ar condicionado.

Todo mundo deveria passar por um furacão
e praticar empatia.

Todo mundo deveria ter uma rede de apoio, ainda que
virtual, para dizer:
"Não aguento mais. Estou dirigindo há 14 horas."
E ouvir de um desconhecido uma mensagem simples:
"Calma, tem um posto aberto na 75, pega à esquerda."
"Falta pouco." "Força." "Você consegue."

Todo mundo deveria passar por um furacão
e chegar num hotel mequetrefe de beira de estrada e,
mesmo com cama faltando e sem ar condicionado,
erguer os pensamentos aos céus:
"Obrigado por esse abrigo, meu Deus."

Todo mundo deveria passar por um furacão
e comer um pote de M&M como se o mundo fosse acabar -
porque, afinal, vai que...

Todo mundo deveria passar por um furacão
para entender, em detalhes, o mapa de onde se vive
a aprender, em minutos, mais do que em todas as
aulas de Geografia da vida.

Todo mundo deveria passar por um furacão
e enlouquecer ao tentar encontrar um hotel que 
aceite um bicho, para também dar uma prova de
amor ao seu cachorro.

Todo mundo deveria passar por um furacão
para saber-se vulnerável, mas, sobretudo, para saber-se forte.
Para respirar fundo, fazer uma cama no corredor,
um cafofo no closet e
dormir abraçado com quem se tem.

Todo mundo deveria passar por um furacão
para, por fim, amanhecer em gratidão com o primeiro
raio de sol, com um pato que invade o seu quintal
ou com o canto daquele passarinho que,
por algum dos muitos milagres da natureza,
também sobreviveu.




segunda-feira, 11 de setembro de 2017

JORGE LUIS BORGES


EU TENHO DE SER



Crucificam-me e eu tenho de ser a cruz e os pregos.
Estendem-me a taça e eu tenho de ser a cicuta.
Enganam-me e eu tenho de ser a mentira.
Incendeiam-me e eu tenho de ser o inferno.
Tenho de louvar e agradecer cada instante do tempo.
O meu alimento é todas as coisas,
o peso exato do universo, a humilhação, o júbilo.
Tenho de justificar o que me fere.
Não importa a minha felicidade.
Sou poeta...






sábado, 9 de setembro de 2017

NAUFRÁGIO



Enganar a mim mesmo.
Descobrir as mãos
vazias,
como sempre, de 
repente.

Naufragar novamente
como nau sem governo,
sem bandeira,
sem lugar.

Naufragar simplesmente,
como sempre!!!




quinta-feira, 31 de agosto de 2017

FERNANDO JORGE FABIÃO



"SE A MORTE FOSSE UMA CASA BRANCA"



Se a morte fosse uma casa branca
e eu tivesse uma palavra breve e obscura.
Se a morte fosse um sono tão leve
que o murmúrio do vento a deixasse enlouquecida.
Se a morte fosse o instante entre o ir e voltar
uma pedra redonda e frágil atirada ao sono
do mundo.
Reunia os meus mortos, falava-lhes da sombra
que habita nas coisas
das malvas rodeando o poço.
Talvez a música do vento nos salgueiros
ou a canção das abelhas ardesse
intacta por dentro das palavras.



quarta-feira, 30 de agosto de 2017

CREPÚSCULO SEM NOME





Caiu do céu diretamente no almatua
O céu, no caso, é o blogue  crepusculo-sem-nome.blogspot.com, do KARL



Talvez o maior erro seja esperar em demasia
Deixar que as expectativas cresçam e ganhem vida

Sigo de mãos vazias
É melhor assim
Prefiro as palavras no pensamento
A distância acaba sempre por me reconfortar




domingo, 27 de agosto de 2017

AVESSO




E existe de tudo
o avesso.
Sentados confortavelmente,
esquecemos que
existe o avesso
até
do que não acontece:

Acontece!




terça-feira, 22 de agosto de 2017

POR QUÊ???




dias cinzentos
pintados de 
ausências
teimosos, silenciosos,
indelicados...

pensar mexe com
os sonhos
e pesadelos

se teu sorriso tivesse,
ao menos,
encurtariam distâncias...










sexta-feira, 18 de agosto de 2017

CONSTATAÇÃO

Como eu já havia dito algumas vezes...





Constato a solidão,
inteira, completa,
que, por desleixo,
nunca havia notado,
embora ela sempre
tenha sido minha
mais fiel companheira.




quinta-feira, 10 de agosto de 2017

ÁGATA



INÊS  DIAS



Foi amor à primeira vista.
Ela tinha nome e pedra preciosa
e na literalidade dos meus cinco anos,
cabelo em forma de pássaro - negro
asa de corvo.

Era o tempo em que ainda
aprendia com o corpo todo:
uma fratura exposta para entender
o significado de maioria, uma pneumonia
para descobrir a solidão.
Quando ela me cravou um lápis
sob o olho esquerdo, pressenti que a escrita,
grafite fria à flor do sangue,
deixaria marcas para sempre.

Nunca mais nos separamos.
Eu e as palavras,
a Ágata mudou de escola.




sexta-feira, 4 de agosto de 2017

SENTIMENTOS




Fria a noite, parece...
Ou será apenas o coração gelado!
Ou as mãos,
que não sabe onde colocar...
E os olhos inquietos,
quase inseguros.

Procura, como sempre,
os olhos dela.
E recebe, de frente, o olhar angustiado...

Queria tanto falar com ela...




segunda-feira, 31 de julho de 2017

JOSÉ AGOSTINHO BAPTISTA



SILÊNCIO



Uma noite,
quando o mundo já era muito triste,
veio um pássaro da chuva e entrou
no meu peito,
e aí, como um queixume,
ouviu-se esta voz de dor que já era a tua
voz,
como um metal fino,
uma lâmina no coração dos pássaros.
Agora,
nem o vento move as cortinas desta casa.
O silêncio é como uma pedra imensa,
encostada à garganta.


quinta-feira, 27 de julho de 2017

CAMINHO SEM VOLTA



Acredito fielmente no que acreditas
e sorrio para tudo o que te encanta.
Adivinho cada um dos teus anseios
e sigo pisando nos traços que teus pés
deixam marcados.

O caminho é sem volta
e isto resume tudo,
completamente,
o que sempre
desejei!




segunda-feira, 24 de julho de 2017

ENFIM...



escondidas as mentiras,
obrigados a dizermos
a verdade,
calamo-nos...

tudo a seu tempo.


quinta-feira, 20 de julho de 2017

USOS E ABUSOS



Poderia, claramente, ser o dito pelo não dito.
Não haveria, certamente, nenhuma
avalanche.
Assim estariam preservados todos os
incautos,
todos os cidadãos descentes,
todos os cumpridores das leis...

Nenhum injusto a ser castigado.
Tudo como sempre foi!


domingo, 16 de julho de 2017

SEJA O SOL



Já não sonho o
amanhã com esperança
redobrada.
Balança a estrutura da casa.
Anseios se tornam 
reais?

Apazigue meu sono,
verdades.

Me lembrem que sou o sol...
Me acordem para que eu não chore.





domingo, 2 de julho de 2017

A ILHA


esta ilha rodeada de nada,
a última do mundo,
da vida...
isolada, fria, tão distante...
difícil lembrar
como aqui vim parar...

foi excesso de amor
ou descaso,
talvez!!!




sábado, 1 de julho de 2017

LUIS QUINTAIS


ÉTICA


Vou falando as pequenas coisas
que me são solicitadas.
Sentindo que as ciladas
se acumulam cada vez que falo.
Preferi hoje o silêncio.
A ausência de equívocos
não é partilhável.
No inegociável deste dia,
destituo-me de palavras.
O silêncio não se recomenda.
Deixa-nos demasiado sós,
visitado pelo pensamento.





quinta-feira, 29 de junho de 2017

A LUA SOBRE O RIO DO LESTE


WANG  WEI



A lua sai de dentro da montanha,
eleva-se, devagar, sobre o portão da casa.
Mil árvores perderam a umidade do céu,
nuvens negras voam no espaço.
De súbito, o luar embranquecendo a floresta,
a terra respira no orvalho frio.
Águas de outono cantam nas cascatas,
uma névoa azul paira sobre as rochas,
sombras partidas abraçam cumes vazios.
Como num sonho, tudo é transparente, puro,
de pé. à janela, diante do rio,
de madrugada, sonolento, sem pensar.





Poesia tirada do blogue "balsamobenigno.wordpress.com"

quarta-feira, 21 de junho de 2017

MOVIMENTO


e se eu fosse a palavra
de ordem
na confusão expressa deste
movimento?

e se eu fosse o grito
suspenso
na garganta do orador
deste encontro?

confesso, apesar de tudo,
ser impossível
viver de mentiras...




terça-feira, 13 de junho de 2017

SANTA IGNORÂNCIA


se a vida fosse
mais simples que esta
matemática,
este grego para ser
traduzido,
este passe de mágica,
talvez eu já tivesse aprendido
suas regras
e seus mistérios...

mas, não...
como todo bom ser humano
persisto  nesta santa
ignorância!



domingo, 11 de junho de 2017

DE ANTEMÃO

JOAQUIN  GIANNUZZI


Comprei café, cigarros, fósforos.
Fumei, bebi
e fiel à minha retórica particular,
pus os pés sobre a mesa.
Cinquenta anos e uma certeza de condenado.
Como quase todo mundo fracassei sem fazer ruído.
Bocejando ao cair da noite murmurei minhas decepções,
Cuspi sobre minha sombra antes de ir para a cama.
Esta foi toda a resposta que pude dar a um mundo
que esperava de mim um estilo que provavelmente não me
correspondia.
Ou pode ser que se trate de outra coisa. Quem sabe
houve um projeto diferente para mim
em alguma provável loteria
e meu número não saiu.
Quem sabe nada resolva um destino estritamente pessoal.
Quem sabe a maré histórica a resolva por um e por todos.
Me cabe isto.
Uma porção de vida que me cansou antecipadamente.
Um poema paralisado em meu caminho
por uma razão desconhecida.
Um resto de café na minha xícara
que por alguma razão
nunca me atrevi a tomar até o fundo.




domingo, 4 de junho de 2017

A DOR

AMALIA  BAUTISTA



A dor não humaniza, não enobrece,
não nos faz melhores nem nos salva,
nada a justifica nem a anula.
A dor não perdoa nem imuniza,
não cria nada e nada a destrói.
A dor existe sempre e sempre volta,
nenhum dos seus atos é o último
mas todos podem ser definitivos.
A dor mais horrível pode sempre
ser ainda mais intensa e ser eterna.
Anda sempre acompanhada pelo medo.
Os dois se alimentam um ao outro.




domingo, 28 de maio de 2017

VIATCHESLÁV KUPRIYANOV


CANÇÃO  DE  EMBALAR



Dorme
em teu sono.
Por teu coração
passará imperceptível
a noite

levando consigo
as sombras matutinas da hesitação,
os pergaminhos das mágoas diárias,
os flocos da angústia noturna.

De manhã
haverá de novo luz
em teu coração.




domingo, 21 de maio de 2017

AMANHECER (NOVO)



Já? Diz a noite, da beira
da sacada,
as luzes mortas, ou
prestes a estarem...
Começavam ali as
magias, encantamentos e tristezas,
de noites tão quentes
e destinos tão frios...

Principiava a vida!




sábado, 13 de maio de 2017

ADAM ZAGAJEWSKI



UMA  CHAMA



Senhor, dá-nos um longo inverno
e música suave, e bocas pacientes,
e um pouco de orgulho - antes
que o nosso tempo chegue ao fim.
Dá-nos o espanto
e uma chama, alta, clara.





sábado, 15 de abril de 2017

TEU OLHAR - VESTÍGIOS





São vestígios, nada mais,
as sombras de teu olhar.
Dúvidas que gritam,
fortes,
estórias que se contam
há séculos e noites quentes
e frias,
arrepiantes, apesar de tudo.
São vestígios, nada mais.

A não ser o fim da noite,
antes das sombras e
de teu olhar...




domingo, 2 de abril de 2017

VIAGEM




e quando o ocaso
persiste,
em luzes brilhantes,
a vida,
viagem teimosa, dura
ainda um instante.

é preciso o
amanhecer, mesmo
entre nuvens,
pra vida voltar,
pra vida valer.

de verdade...



segunda-feira, 20 de março de 2017

INSISTÊNCIA...( AINDA)




porisso ainda choro, às vezes...
até a última gota,
um tanto mais, ainda
ou algo mais.
ou muito mais.

ainda é pouco e
destrói-se o que anda,
o que caminha,
o que voa...

o que tem olhos apenas pra você
... ainda!



quarta-feira, 15 de março de 2017

TRUQUES




Nada do que dizes me encoraja,
nem me deprime.
Em outros momentos, talvez,
tuas palavras tiveram cor,
além do som natural...
Perdeu-se, no encanto destas
luzes tantas.

Como truques de magia negra...

Como gritos de pavor,
nestes pretensos filmes de terror!!!


sábado, 11 de março de 2017

PROMESSA




Luminoso o céu em noite
tão quente.
Teus sonhos à espreita e
o medo, companheiro fiel,
não te deixa enxergar.

Recolhe o teu olhar.
Diz, com fé, cada desejo teu...

E eu, cumprindo a promessa,
te darei todos...

Um a um!






segunda-feira, 6 de março de 2017

LIÇÕES DE VIDA (AINDA!)




é o descontrole emocional,
certamente,
que provoca tanto sal.
não posso acreditar que seja um complô,
nem mesmo contra os mais ingênuos (ou incautos )
como eu.
são semelhantes os sintomas.
iguais as causas!

frios os sentimentos...







quinta-feira, 2 de março de 2017

MENTIRA




não pode tamanha mentira
sustentar um Império.
nem mesmo um amor.
nascida orfã, tão
abjeta mentira faz
o amor parecer um "game".
destes
que se dão aos meninos...
prá mantê-los calados...
Apenas!!!



quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

ÚNICO DESEJO




Quero ficar um pouco mais...
Poder sonhar sem ilusão...
Ouvir a voz que já se foi...

Poder chorar neste lugar.








segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

POESIA !






olho teus olhos na foto,
teu narizinho arrebitado,
olhos tão brilhantes
e sinto que começo
a entender melhor

o que é poesia!




terça-feira, 24 de janeiro de 2017

CINZENTAS UTOPIAS





Quantos domingos mais
beberei do sopro deste vento,
chorarei pelas mortes de soldados
que conheço só de livros,
em datas que outros comemoram
e cantam nascimentos de bebês.
Dramas, mistérios, comédias
é você que alimenta. E
o mundo,
engole...










sábado, 14 de janeiro de 2017

TODA VIAGEM



parece-me tão extensa esta viagem,
de tão pouca bagagem
e tanto peso, ainda assim.

o pó não poderia deixar de
me seguir,
depositando tristezas no
fundo desta garganta.

e é assim...
há meses e meses...