sábado, 26 de março de 2016

Luar eterno



mesmo que o sol não
se ponha jamais, nossas noites
serão de luar eterno,
que,
não só nós notaremos...
sim,
há em nossa vida um poder
ainda maior que o da
natureza...


A. C. Rangel





quarta-feira, 23 de março de 2016

RENATA CORREIA BOTELHO




apaga a luz quando entrares e
vem ver  se em mim
ainda se cheira o mar

rossio sagrado
onde as fadas tecem as tuas mãos

lacra com o teu corpo
esta ferida aberta, frágil trincheira
que transpões, como o primeiro canto
descortina as trevas

repara que dentro de nós
já é manhã




domingo, 20 de março de 2016

JOELMA




Tempo!
Voa, é claro. Evapora!
Conta o tempo,
conta a vida!
Tempo!
Nos aproxima. Nos compreende.
Mais e mais.
E a vida ganha sentido,
se transforma em prazeres.
Pequenos!
Enormes!
Como mostrar quem somos,
quem somos juntos.
Aniversário.
Lembra quem  eu amo,
Lembra você!



A. C. Rangel



quinta-feira, 17 de março de 2016

ILUSÃO INALIENÁVEL - BÁRBARA PAIS




Ora quero lá saber da chuva,
do vento que uiva lá fora,
do rio furioso que transborda,
dos raios, dos trovões,
de todas as intempéries!

Quero antes aquecer ilusões,
à lareira, todos os serões,
de portas e janelas bem fechadas,
para que das chuvas ácidas
que afogam esse mundo estranho
no meu mundo nunca entre nada!






domingo, 13 de março de 2016

LUÍS MANUEL GASPAR



( ... )


Nada poderá trazer um navio de volta
a este porto prometido às trevas
e ao visco.
No jardim que deixamos para trás
(e lembra hoje uma única teia de tamiça e estopa)
cresceram as luzes da visitação.

Não seguimos o rio, não iremos juntos.
Só damos de nós o que jamais
poderão ver.


( ... )



Poesia obtida em  arquivodecabeceira.blogspot.com.br,
a quem muito agradeço e recomendo.





quarta-feira, 9 de março de 2016

Destinos



Mais importante que a estrada
é quem caminha por ela, é
o destino de cada um.

Não se forjam destinos impunemente.
Não se consegue manipulá-los.

Cabe a cada um cumprir o seu,
para que cada um possa ser
coroado e receber da vida
prêmio tão almejado...

A própria vida!


A. C. Rangel




sexta-feira, 4 de março de 2016

VOLTO À MEMÓRIA DO MAR - GRAÇA PIRES



Volto à memória do mar,
ao fundo salgado do abismo,
ao sepulcro das cinzas,
ao meu chão de múltiplas névoas.
Muito longe serei ilha, ou rochedo,
ou pérola na fenda da concha.
Uma litania, um cântico,
um grito ao vento serei ainda,
amarrando os barcos.




Poesia de Graça Pires, obtida no blogue da autora: ortografiadoolhar.blogspot,com, retirado do livro UMA CLARIDADE CEGA, publicada no Brasil  pela EDITORA INTERMEIOS. Para aquisição do livro favor dirigir-se ao site redeintermeios.com

quinta-feira, 3 de março de 2016

O NOME DAS ÁRVORES - RUI MIGUEL FRAGAS



Há quem olhe as árvores como quem olha as árvores e
guarda nos bolsos dois nomes para cada árvore. As
árvores não morrem no interior da sombra.

Quem é que sabe que sabe até o fim do mundo é
pouco mais do que nada. Quem sabe que as palavras
são só uma nesga de paisagem. Quem caminha assim
por dentro dos caminhos, O nome das árvores é o
silêncio.

Há quem olhe as árvores como quem procura pássaros
dentro das árvores e o céu por cima das árvores. As
árvores não morrem no interior da sede.

Quem é que sabe que o destino é tão lento e está tão
perto. Para quem se demora o vento quando o vento se
demora. Quem é que sabe que sonhar é o princípio da
respiração. As árvores são o lume quando os caminhos
se acendem.

Há quem olha as árvores como quem olha as árvores
ou como quem olha as casas ao cair da noite. As
árvores não morrem no interior do medo.

Quem é que sabe que viver é viver prá lá da última
folha. Quem é capaz de morrer e depois de morrer não
morrer ainda. Quem habita os lugares invisíveis. As
árvores caminham no descuidado caminhar do tempo.

Há quem olhe as árvores como quem olhe as árvores
com os olhos súbitos e incendiados de amor. As
árvores não morremo no interior da chama.

Tudo nas árvores é o coração das árvores. Por quem os
pássaros esquecem as asas quando os pássaros
aquecem as asas. Quem sabe devagar amadurecer um
fruto. Quem é capaz de amar assim até as raízes.



Poesia obtida no blogue leiturasmalamanhadas.blogspot.com, a quem agradecemos sinceramente.



terça-feira, 1 de março de 2016

TÃO INÚTIL - ALICE VIEIRA



esperar que voltes é tão inútil como o
sorriso escancarado dos mortos na
necrologia dos jornais

e, no entanto, de cada vez que
a noite se rasga em barulhos no elevador e
um telefone se debruça de um sexto andar

sinto que ainda ficou uma palavra minha
esquecida na tua boca

e que vais voltar
para
a
devolver.