quarta-feira, 22 de novembro de 2017





Relembra-me...

e terás um sorriso na boca
e um brilho nos olhos
que se transformarão
no melhor momento

deste dia...

Quem sabe de toda a vida!!!





A.C. Rangel



domingo, 19 de novembro de 2017

HERANÇA



Este é o velho trem
que no passado levava,
sempre,
muitos sonhos,
muita esperança,
muitas desilusões.

Espalhava sentimentos.
enquanto engolia trilhos.

Deixou herdeiros quando
parou definitivamente de
rodar.
Do seu testamento recebi,
sozinho,
todas as desilusões!




sexta-feira, 17 de novembro de 2017

CARLOS DRUMOND DE ANDRADE




OS  OMBROS  SUPORTAM  O  MUNDO



Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho
e o coração está seco.

Em vão as mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.

Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.



sexta-feira, 10 de novembro de 2017

AFOGADOS



Nem mesmo você,
 sinto,
percebe a vida a 
te rodear,
equivocada ao não me perceber
em ti.

Ondas enormes em praia tranquila...

Mãos secas
em corações afogados...

E eu ainda te respiro.
Vivo!









sexta-feira, 3 de novembro de 2017

NUNO JÚDICE



EXERCÍCIO



Pego um pedaço de silêncio. Parto-o ao meio
e vejo saírem de dentro dele as palavras que
ficaram por dizer. Umas meto-as num frasco
com o álcool da memória, para que se
transformem num licor de remorso; outras,
guardo-as na cabeça para as dizer, um dia,
a quem me perguntou o que significavam.
Mas o silêncio de onde as palavras saíram
volta a espalhar-se sobre elas. Bebo o licor
do remorso; e tiro da cabeça as outras palavras
que lá ficaram, até o ruído desaparecer, e só
o silêncio ficar inteiro, sem nada por dentro.