(A.M. Pires Cabral)
Toda a minha vida me escutaste em silêncio.
Tinhas à disposição as vozes enormes
do vento, das águas, do trovão, do pintassilgo-
mas nunca dei por que as usasses comigo.
Envelheci enredado
nas teias dessa mudez.
Ganhei a industriosa astúcia dos velhos
à custa de perder a candura original,
li com cada vez mais desenganada luz
o teu silêncio.
Assim, a princípio achava-o cúmplice,
quente e generoso. Um silêncio
de quem concorda e apoia,
e não acha necessário proclamá-lo.
Com a continuação,
começou-me a aparecer o teu silêncio
já só condescendência. O silêncio
de alguem que se dispensa de mostrar
desacordo por simples cortesia.
Ilustração: alegriaaa.wordpress.com
4 comentários:
Onde estão as palavras sólidas como colunas, para explicarmos a nós próprios e aos outros os silêncios que vamos colhendo na vida?
Aparentemenre o que é, pode não ser... que sabemos nós dos mistérios que nos envolve?
Mas tudo é um desafio que se deve olhar positivamente...muitas vezes, as derrotas escondem vitórias estrondosas, depois de um olhar sereno e confiante...
Aquele abraço de muita Amizade.
Graça
Rangel...
Não conhecia este poeta! O poema, muito lindo.
"As teias da mudez" são tão barulhentos vez por outra..."
Beijos
Anne
Tanto se deixa por falar...tanto por sentir...e o que deixamos pra trás no silêncio das horas.E nessa miscelânea de faltas percebemos o quanto poderíamos ser mais pleno vivo(a) mais amado(a).Belo poema Rangel.Até mais.
PORQUÊ TANTO SILÊNCIO NA NOSSA VIDA TÃO BELA ???
DEVÍAMOS TODOS SABER VENCÊ-LO...
BEIJO
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