sexta-feira, 27 de maio de 2016

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN




DUAS  POESIAS  DE  SOPHIA  



INSTANTE


Deixa-me limpo
o ar dos quartos
e liso
o branco das paredes.
Deixa-me com as coisas
fundadas no silêncio.

--- ooo ---

EU  CONTAREI


Eu contarei a beleza das estátuas --
seus gestos imóveis ordenados e frios --
e falarei do resto dos navios

sem que ninguém desvende outros segredos
que nos meus braços correm como rios
e enchem de sangue a ponta dos meus dedos.







segunda-feira, 23 de maio de 2016

VOCÊ CONHECE EDITH LOMOVASKY?



QUE CANÇÃO SEM BERÇO



Edith  Lomovasky
Poeta argentina


Que canção sem berço cantarei pelas
madrugadas?
Que gritarei às janelas
antes do fogo?

Não quero repetir
gerações de deserto.
Escapo-me a Deus das pragas e dos ternos sacrifícios.

A canção.
O berço.
Regressam do espelho dos meus sonhos.

O balançar feliz
perdura nos meus quadris.

Estou viva.





quinta-feira, 19 de maio de 2016

Calemo-nos




e quando as palavras não
vêm à boca,
entaladas entre a
ira e o receio de
fazerem sangrar passados?

e quando as palavras têm
o peso exato
do que se quer dizer
e a garganta se fecha
apenas para nos poupar?

calemo-nos, pois...





quarta-feira, 11 de maio de 2016

Ode ao luar





Não tenho medo das luas
que teimam em iluminar minhas
noites.
Confio em seus desígnios
e acredito em seus destinos.
Bebo todo o brilho de seus
olhares e não temo sequer
as sombras que ela produz.

Sou servo de sua luz
e de seus brancos e frios
sorrisos..





terça-feira, 3 de maio de 2016

2 POEMAS DE SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN




Nunca mais 
caminharás nos caminhos naturais.

Nunca mais te poderás sentir
invulnerável, real e densa -
Para sempre está perdido
o que mais do que tudo procuraste.
A plenitude de cada presença.

E será sempre o mesmo sonho, a mesma ausência.

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MAR NOVO


Este é o tempo
da selva mais obscura.

Até o ar azul se tornou grades
e a luz do sol se tornou impura.

Esta é a noite
densa de chacais
pesada de amarguras.

Este é o tempo em que os homens renunciam.