terça-feira, 24 de julho de 2012

Sou



Sou assim mesmo.
Inegável meu jeito
em cada um dos meus
descuidados passos,
em cada letra que
escrevo, em cada olhar
desastrado que arrisco.


Sou assim mesmo.
De fala pouca e
imperceptível presença,
andarilho de minha
própria vida, parca
e inconstante, sou
assim mesmo.


Sempre!




ilustração obtina no blog edendaluxuria.blogspot.com

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Perguntas



Não são respostas que
busco, apenas.
Também, quem sabe,
perguntas.
Porque buscar,
insistir em querer
encontrar respostas
somente?


Respostas são sempre
mais fáceis de
se encontrar que
a pergunta inteligente,
decisiva!






ilustração obtida em grupoboiadeirorei.blogspot

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Um pouco mais que haiku de amor (David Teles Pereira - poeta português)


Tenho medido os dias a cigarros rápidos e imprecisos
fumados até o litoral dos teus olhos. Continuo...
no mesmo lugar de sempre, devolvendo
às cadeiras o sorriso emprestado pela familiaridade
dos seus gestos tão pouco poéticos.


Tenho acertado os dias pelos copos que agora
estão -ou estarei eu?- vazios. Vai-me pedindo
mais um copo, que eu vou convocar
certos demônios no espelho da casa de banho e, depois,
beber um pouco de água opaca, lavar bem as mãos, secá-las
e regressar à mesa quatro minutos menos feliz.


Não morras nunca, digo-te, acrescentando logo a seguir
que, mesmo assim, não quero falar da morte,
muito embora -desculpa-me a insistência- 
o teu cabelo hoje me pareça mais preto que nunca.
Sorris.


É o que me vale, sabes sorrir tão bem.




ilustração tirada da internet

domingo, 8 de julho de 2012

Velho amigo


Para o meu grande amigo Dick...
Que decidiu ir.




porque estas lágrimas
esparsas, espessas,
profundas,
esta dor de punhal
por ocasos incompreensíveis
aos que te rodeiam.


porque sentimentos estranhos,
tantos, 
ao menos para pessoas,
aquelas normais.


cala em teu peito a dor.
lembra só tu daqueles momentos,
de silêncio e paz,
guardados agora.






ilustração obtida no blog alimentodafe.blogspot

sexta-feira, 6 de julho de 2012

O que peço ao dia - (Vicente Gallego)



O que peço ao dia já não é
que se cumpram os sonhos, que me entregue
cumpridos os desejos de outros dias,
porque enfim aprendi que os sonhos
são como as asas de um inseto:
quando lhes tocamos desfazem-se;
quando um sonho se realiza torna-se outra coisa
que não ajuda a voar.
O que peço ao dia começa a ser, aliás,
nais difícil ainda de alcançar
que sonhos realizados, porque exige
a antiga fé nos sonhos.
O que peço ao dia é simplesmente
um pouco de esperança, essa forma modesta
de felicidade.




ilustração tirada do blogdogibanet.wordpress