quinta-feira, 31 de agosto de 2017

FERNANDO JORGE FABIÃO



"SE A MORTE FOSSE UMA CASA BRANCA"



Se a morte fosse uma casa branca
e eu tivesse uma palavra breve e obscura.
Se a morte fosse um sono tão leve
que o murmúrio do vento a deixasse enlouquecida.
Se a morte fosse o instante entre o ir e voltar
uma pedra redonda e frágil atirada ao sono
do mundo.
Reunia os meus mortos, falava-lhes da sombra
que habita nas coisas
das malvas rodeando o poço.
Talvez a música do vento nos salgueiros
ou a canção das abelhas ardesse
intacta por dentro das palavras.



quarta-feira, 30 de agosto de 2017

CREPÚSCULO SEM NOME





Caiu do céu diretamente no almatua
O céu, no caso, é o blogue  crepusculo-sem-nome.blogspot.com, do KARL



Talvez o maior erro seja esperar em demasia
Deixar que as expectativas cresçam e ganhem vida

Sigo de mãos vazias
É melhor assim
Prefiro as palavras no pensamento
A distância acaba sempre por me reconfortar




domingo, 27 de agosto de 2017

AVESSO




E existe de tudo
o avesso.
Sentados confortavelmente,
esquecemos que
existe o avesso
até
do que não acontece:

Acontece!




terça-feira, 22 de agosto de 2017

POR QUÊ???




dias cinzentos
pintados de 
ausências
teimosos, silenciosos,
indelicados...

pensar mexe com
os sonhos
e pesadelos

se teu sorriso tivesse,
ao menos,
encurtariam distâncias...










sexta-feira, 18 de agosto de 2017

CONSTATAÇÃO

Como eu já havia dito algumas vezes...





Constato a solidão,
inteira, completa,
que, por desleixo,
nunca havia notado,
embora ela sempre
tenha sido minha
mais fiel companheira.




quinta-feira, 10 de agosto de 2017

ÁGATA



INÊS  DIAS



Foi amor à primeira vista.
Ela tinha nome e pedra preciosa
e na literalidade dos meus cinco anos,
cabelo em forma de pássaro - negro
asa de corvo.

Era o tempo em que ainda
aprendia com o corpo todo:
uma fratura exposta para entender
o significado de maioria, uma pneumonia
para descobrir a solidão.
Quando ela me cravou um lápis
sob o olho esquerdo, pressenti que a escrita,
grafite fria à flor do sangue,
deixaria marcas para sempre.

Nunca mais nos separamos.
Eu e as palavras,
a Ágata mudou de escola.




sexta-feira, 4 de agosto de 2017

SENTIMENTOS




Fria a noite, parece...
Ou será apenas o coração gelado!
Ou as mãos,
que não sabe onde colocar...
E os olhos inquietos,
quase inseguros.

Procura, como sempre,
os olhos dela.
E recebe, de frente, o olhar angustiado...

Queria tanto falar com ela...