Há quem olhe as árvores como quem olha as árvores e
guarda nos bolsos dois nomes para cada árvore. As
árvores não morrem no interior da sombra.
Quem é que sabe que sabe até o fim do mundo é
pouco mais do que nada. Quem sabe que as palavras
são só uma nesga de paisagem. Quem caminha assim
por dentro dos caminhos, O nome das árvores é o
silêncio.
Há quem olhe as árvores como quem procura pássaros
dentro das árvores e o céu por cima das árvores. As
árvores não morrem no interior da sede.
Quem é que sabe que o destino é tão lento e está tão
perto. Para quem se demora o vento quando o vento se
demora. Quem é que sabe que sonhar é o princípio da
respiração. As árvores são o lume quando os caminhos
se acendem.
Há quem olha as árvores como quem olha as árvores
ou como quem olha as casas ao cair da noite. As
árvores não morrem no interior do medo.
Quem é que sabe que viver é viver prá lá da última
folha. Quem é capaz de morrer e depois de morrer não
morrer ainda. Quem habita os lugares invisíveis. As
árvores caminham no descuidado caminhar do tempo.
Há quem olhe as árvores como quem olhe as árvores
com os olhos súbitos e incendiados de amor. As
árvores não morremo no interior da chama.
Tudo nas árvores é o coração das árvores. Por quem os
pássaros esquecem as asas quando os pássaros
aquecem as asas. Quem sabe devagar amadurecer um
fruto. Quem é capaz de amar assim até as raízes.
Poesia obtida no blogue leiturasmalamanhadas.blogspot.com, a quem agradecemos sinceramente.