sábado, 28 de fevereiro de 2009

Condenados


Condenados

Constato, estarrecido,
que no futuro
nada acontecerá,
simplesmente porque
o futuro não existe
para gente como nós,
irremediavelmente
agarrados ao passado...

Atados, em todo o tempo
que se passou
aos sentimentos que
eternamente renunciamos.
Zombamos do amor.

Resta-nos somente aguardar
o fim desta pena de
prisão perpétua
a que, justamente,
fomos condenados.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Passado

Passado

Estava aqui, sózinho, rasgando papéis antigos,
fazendo uma limpeza na velha gaveta.
Quantas lembranças, de repente, me assombraram!
Tendo, o que há muito se passou,
voltado a tocar minha alma.
Sentimentos revisitados,
sensações revolvidas.
Boas e más, alegres e tristes,
todas, afinal...

Como se a vida, mesmo empoeirada,
estivesse novamente passando por
minhas mãos.
E sendo, convenientemente,
rasgada...

Ilustração: Vincent_Willem_van_Gogh

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Amanhecer


Amanhecer

Amanhece!
E neste clarear tão delicado,
surgem vultos e formas
que ontem não estavam aqui.
São detalhes,
são figuras que,
resgatados do passado,
insistem em voltar.

Dentre elas, teu olhar
que, mesmo tão brilhante,
ainda não despertou!


Novas feridas


Novas feridas

Das marcas na minha vida
as mais profundas ainda doem.
Carrego-as há tanto tempo
sem uma lágrima verter.
Não há tempo para chorar o passado.

No tempo que ainda disponho,
busco novas feridas.


Foto: http://br.geocities.com/jardimdepoesias

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Letras (Novamente)


Letras
(Novamente. Porque amo estas letras.)

Guardo os livros cansados
nas enormes prateleiras.
Guardo junto todos os sorrisos
e lágrimas e poesias
que, em mim,
pacientemente plantaram.
Também as flores que
deles brotaram.

E guardo você,
entre tantas palavras
e imagens.


Cecília Meireles



(Cecília Meireles)

O vento do meu espírito
soprou sobre a vida
e tudo que era efêmero
se desfez.
E ficaste só tu, que és eterno...


Foto: Nilza Ventura Pires

Cora Coralina


Aninha e suas pedras
(Cora Coralina)

Não deixes destruir...
ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta rodeiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória dos corações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.


quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Amar demais


Amar demais

Saudades,
quantos já disseram,
instrumento de tortura,
corda fina,
sufocante,
rainha dos maus tratos,
de insuportáveis castigos...

Crime relatado
nos autos:
amar demais!


terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Qualquer espécie de amor...


Qualquer espécie de amor...

Cuidar, olhar com desvelo,
ainda que as palavras ditas,
tal qual lâminas
afiadas,
extremamente afiadas,
tenham decepado
em nós
qualquer espécie de amor...

Cuidar, olhar com desvelo,
porque o sangue não parou
de escorrer,
molhando, manchando
entre nós
qualquer espécie de amor...

Ilustração: Modigliani / Jeanne-Hebuterne

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Te procuro

Te procuro

Te procuro
por entre caminhos,
os mais longos que já percorri.
Por entre olhares estranhos,
sorrisos e desconfianças.

Te procuro
por entre estrelas,
em noites sem lua, frias e escuras.
Por entre pessoas ainda mais frias,
carrancudas e ausentes.

Te procuro
por entre verdades,
tristezas, grandes e pequenas,
deslealdades apenas,
um modo de omitir, esconder.

Te procuro
noite e dia e,
simplesmente,
não consigo mais
te encontrar...

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Caminhar

Caminhar

Caminhar por estes caminhos escuros.
Me perder por entre estas novas sombras.
Buscar o imprevisto, a realidade,
boa ou ruim...
Caminhar entre verdades e mentiras,
pisar flores, insetos e o passado.
Sentir o perfume da mata,
o cheiro da chuva,
a carícia desta brisa.
Caminhar sempre.
Viver, enfim !

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Chover


Chover

E a chuva veio.
Verdadeiro temporal.
Dilúvio, lavando meu peito,
levando meu sonho,
molhando meu chão,
afogando ilusões.

Fez-se a enxurrada,
noite adentro,
alma adentro,
vida a fora.

Sem nenhuma cobertura,
terreno descampado,
corpo ensopado,
frio,
tremor...

Eterno !


sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Anjo

Anjo

Esta noite, mais uma vez,
aquele anjo voltou
a me visitar.
Veio novamente calmo, tranquilo,
sorridente,
transpirando felicidade,
para falar de ti.

Falou muito.
Falou do seu amor por mim,
da dor da minha ausência,
coisas assim.

Foi uma visita rápida
e ele se foi esperançoso.

Pois é!
Pena que eu continue
não acreditando em
anjos...

Invernos

Invernos

São como brasas, teus olhos.
Incandescentes, brilhantes, quentes...
Mas, por mais que eu os toque,
apesar do calor,
não me firo.
Ao contrário.
Seu calor me encanta e
me envolve,
me comove.

Afasta a fria realidade
de uma vida feita apenas de
invernos,
sem estas brasas sequer !

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Nunca !


Nunca !

Ela está aqui,
a um passo do meu toque,
desafiando meu olhar,
meu sorriso...

Ela é minha musa
e existe
e insiste em ser vapor,
em se expor e
evaporar.

Tal qual minha vida,
vem e vai.
É
e insiste em não ser.
Nunca !


domingo, 1 de fevereiro de 2009

Adeus


Adeus

Você
teus olhos, profundos,
sorriso misterioso,
palavras doces e,
de repente,
inesperadamente,
um adeus...

Teus olhos, disfarçados,
teu sorriso, ausente,
palavras amargas,
de repente,
definitivamente...
adeus!

Companheiro


Companheiro

Foge-nos, tão veloz, às vezes,
quando, felizes, dele não nos
lembramos.
Escraviza-nos, tão poderoso,
nos momentos de apreensão...

Conta muito, no fim da vida,
quando passamos a sentí-lo
com a importância e
reverência que ele quer.

Custa a passar quando desejamos,
na nossa juventude,
época de intolerância com
sua lentidão.

O tempo, ora parceiro, ora algoz,
ligado, indelevelmente,
ao tempo de todos nós!

Fernando Pessoa

Fernando Pessoa

Tudo o que faço ou medito
fica sempre na metade.
Querendo, quero o infinito.
Fazendo, nada é verdade.

Que nojo de mim me fica
ao olhar para o que faço!
Minha alma é lúcida e rica,
e eu sou um mar de sargaço.

Um mar onde boiam lentos
fragmentos de um mar de além...
Vontade ou pensamento?
Não sei e sei-o bem.