quinta-feira, 29 de junho de 2017

A LUA SOBRE O RIO DO LESTE


WANG  WEI



A lua sai de dentro da montanha,
eleva-se, devagar, sobre o portão da casa.
Mil árvores perderam a umidade do céu,
nuvens negras voam no espaço.
De súbito, o luar embranquecendo a floresta,
a terra respira no orvalho frio.
Águas de outono cantam nas cascatas,
uma névoa azul paira sobre as rochas,
sombras partidas abraçam cumes vazios.
Como num sonho, tudo é transparente, puro,
de pé. à janela, diante do rio,
de madrugada, sonolento, sem pensar.





Poesia tirada do blogue "balsamobenigno.wordpress.com"

quarta-feira, 21 de junho de 2017

MOVIMENTO


e se eu fosse a palavra
de ordem
na confusão expressa deste
movimento?

e se eu fosse o grito
suspenso
na garganta do orador
deste encontro?

confesso, apesar de tudo,
ser impossível
viver de mentiras...




terça-feira, 13 de junho de 2017

SANTA IGNORÂNCIA


se a vida fosse
mais simples que esta
matemática,
este grego para ser
traduzido,
este passe de mágica,
talvez eu já tivesse aprendido
suas regras
e seus mistérios...

mas, não...
como todo bom ser humano
persisto  nesta santa
ignorância!



domingo, 11 de junho de 2017

DE ANTEMÃO

JOAQUIN  GIANNUZZI


Comprei café, cigarros, fósforos.
Fumei, bebi
e fiel à minha retórica particular,
pus os pés sobre a mesa.
Cinquenta anos e uma certeza de condenado.
Como quase todo mundo fracassei sem fazer ruído.
Bocejando ao cair da noite murmurei minhas decepções,
Cuspi sobre minha sombra antes de ir para a cama.
Esta foi toda a resposta que pude dar a um mundo
que esperava de mim um estilo que provavelmente não me
correspondia.
Ou pode ser que se trate de outra coisa. Quem sabe
houve um projeto diferente para mim
em alguma provável loteria
e meu número não saiu.
Quem sabe nada resolva um destino estritamente pessoal.
Quem sabe a maré histórica a resolva por um e por todos.
Me cabe isto.
Uma porção de vida que me cansou antecipadamente.
Um poema paralisado em meu caminho
por uma razão desconhecida.
Um resto de café na minha xícara
que por alguma razão
nunca me atrevi a tomar até o fundo.




domingo, 4 de junho de 2017

A DOR

AMALIA  BAUTISTA



A dor não humaniza, não enobrece,
não nos faz melhores nem nos salva,
nada a justifica nem a anula.
A dor não perdoa nem imuniza,
não cria nada e nada a destrói.
A dor existe sempre e sempre volta,
nenhum dos seus atos é o último
mas todos podem ser definitivos.
A dor mais horrível pode sempre
ser ainda mais intensa e ser eterna.
Anda sempre acompanhada pelo medo.
Os dois se alimentam um ao outro.