terça-feira, 29 de junho de 2010

Longo inverno


Desvio das armadilhas deste
longo inverno
e canto as mais alegres
das canções.
Não paro para tentar decifrar
as mensagens da
solidão.
Ao contrário,
sigo sem me ocultar,
sem temer o alcance desta
sombra.

Caminho tão longo,
vida latente,
inverno tão quente!


Ilustração: educarfiles


segunda-feira, 21 de junho de 2010

De mim


Caminho por horas sem sequer imaginar
destinos.
Sangro, caído, sem nunca esgotar
minhas culpas.
Sinto o gosto amargo da solidão,
invariavelmente,
todos os dias.

E construo um futuro de nada,
para além de onde
cheguei.


Ilustração: notarealnamespace

sábado, 19 de junho de 2010

De que vale teu silêncio


E você fala de duras realidades,
duras palavras,
amargas memórias.
E empilha, acomoda,
velhas lembranças,
descoloridas,
doídas...

E de que vale te silenciar,
se as memórias cicatrizadas
não se apagam e,
mesmo sem tua voz,
persistem em
machucar...

ilustração: junkievilipendiados

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Meus segredos teus


qual segredo
posso ainda guardar de ti?

qual das minhas vidas
você já não devassou
e, em cálices do mais
nobre cristal,
ainda não sorveu?

qual das minhas realidades
não são tuas realidades?

e que avesso da minha
alma
você ainda não devorou?

rasga esta folha amarelada,
desfaz este teatro de peça única,
escreve um novo poema...

Ilustração: euemeueu

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Canta o homem


Canta o homem que há pouco chorava.
Bastou lembrar-se da brevidade
dos tempos,
da precariedade do que é viver,
dos olhos da amada.

Canta o homem de coração tão duro.
Bastou perceber que sua força
não está na firmeza das decisões,
mas na vida,
na precária vida e
nos olhos da amada.



Ilustração: slowdown

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Ainda quero


Não me prives
do ensurdecedor silêncio
que na minha vida, há muito,
se fez.
Não me prives
desta noite tão fria
que me envolve e
que me engole.

Docemente.

Traz tua luz, tua voz,
guardadas,
escondidas.
Não me prives de querer
meus
silenciosos temporais.

Ilustração: pgentil

terça-feira, 1 de junho de 2010

O velho

O homem pouco falava.
Peso do tempo vivido,
talvez.
Olhos fixos no chão,
cabeça baixa.
Peso do tempo vivido,
por certo.

Não precisava falar.
Sequer olhar.

Seu negacear de cabeça,
lento e resoluto desacordo
explícito,
dizia mais que palavras,
que olhares.
Dizia tudo.

Nada valera
o tempo vivido.


Ilustração: treklens