sábado, 21 de junho de 2014

Sons



Ali,
tomada pela fúria da
ausência das palavras,
sentindo o gosto de sangue
do silêncio persistente,
busque nos meus olhos,
iluminados,
a vibração de ruídos
que nos permita,
ao menos,
sobreviver...





ilustração obtida no juzice.blogspot.com.br

sábado, 7 de junho de 2014


JOSÉ EDUARDO AGUALUSA, AUTOR ANGOLANO - BARROCO TROPICAL

Diz Núbia de Matos, a cantora.

"Escrevo para iluminar os corredores da minha alma.
Bartolomeu iria crucificar-me por causa desta frase.
Consigo vê-lo a rir-se. Quando estou com ele até tenho
medo de falar, vigio-me constantemente para não dizer
trivialidades, não empolar as frases. Quero que se dane!
Sou assim mesmo. Além disso é verdade: conheço bem
a luz que dorme em certas palavras, a noite que se esconde
noutras. Há metáforas que deflagram como granadas,
estrofes capazes de abrir clarões à nossa frente. Já me
aconteceu de ter cantado os mesmos versos centenas de
vezes sem os compreender. Então, de repente, num palco
qualquer, o Bozar, em Bruxelas, o Finlândia Hall, em
Helsinque, o Koninklijk Theater Carré, em Amsterdan,
num palco qualquer, aquela mesma canção acende-se e
revela-se, abre-se, como uma porta, para um mundo
de cuja existência nem suspeitava. Quando me sinto
perdida, sento-me e escrevo. Quando estou irremediavelmente
perdida, canto. Canto para me salvar."



ilustração: capa do livro, obtida no Google

domingo, 1 de junho de 2014

Vaga


Como as espumas que cavalgam
as ondas,
desfiz-me aos teus pés nesta
praia inóspita.
Cumpri, assim, meus secretos desejos,
tocar-te mansamente, banhar tua pele.

Nada mais resta, portanto,
além de lembrar do sal que te dei...





ilustração retirada de luaalcantara.blogspot.com