domingo, 31 de maio de 2009

Jasmins

Jasmins

Lembro daquele jardim,
daquele canteiro.
Eram jasmins.
Teus olhos brilhando,
tua paixão pelas flores.
Tempos tão simples, vida tão pura.
E tanto mudou...
Jasmins não vejo há tempos.
Você, não me sai da lembrança.
Lembro daquele jardim
e dos teus olhos brilhando.

sábado, 30 de maio de 2009

A viajem

A viajem

Voltam as imagens daquela manhã,
céu escuro, dia frio,
o trem quase a partir.
Teus cabelos, amanhecidos,
um tanto revoltos,
teus olhos, embora mudos, a implorar -
não vá!
Ausência de tempo contado,
retorno de dia marcado,
ainda assim,
almas despedaçadas...

Tempos outros, distantes,
ainda me lembro,
era manhã escura e
fazia muito frio!

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Breve

Breve

Tudo na vida é muito breve.
Tudo!
A vida é breve.
Como a tarde que escorrega
rapidamente em direção ao
abismo escuro da noite.
Breve como aquele teu sorriso,
lembra?
Especial e breve...
Breve como a esperança,
como a fé.
Breve como a vida,
que vem, floresce
e termina...
Mesmo quando, às vezes, ainda há
um resto de vida!

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Sou eu!

Sou eu!

Aquela figura estranha,
congelada no tempo,
solitária, isolada,
sou eu!

Com os olhos perdidos no nada,
parecendo deslocado,
fora de lugar,
sou mesmo eu!
O tempo passou e,
como ele sempre faz com todos,
levou minhas crenças,
meus mais elaborados pontos de vista,
minhas verdades.

Deixou-me discutindo comigo mesmo,
com minha consciência,
que desmente, nega,
as certezas
que imaginei ter ouvido dela mesma.
E o caminho que eu trilhava
com toda a segurança do mundo é, hoje,
um atoleiro onde
o chão firme desapareceu...

Aquela figura estranha,
que parece um exilado
num mundo onde nunca habitou,
sou eu!

Foto: glaurosa.zip.net/images/rua

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Guerreiro cansado

Guerreiro cansado

Cansado de guerras, cansado de glórias,
de sangue e de todo o prazer que tinha,
o herói, tantas vezes condecorado
apóia a cabeça nas mãos espalmadas,
cotovelos nos joelhos.
Olhos fechados, como sempre foi seu coração,
parece, de repente, estar mentalmente
revendo a vida.
Se pega, surpreso, sem entender bem,
pela primeira vez na longa vida,
lançando dúvidas sobre seus feitos.
Que restou de tantas glórias?
Quais causas, mesmo, defendeu?
Tantos triunfos não deveriam deixar
este gosto amargo na boca, nem
tanta incerteza sobre o brilho das medalhas.
Sente, afinal, o definitivo sabor da derrota.
Derrota de uma vida de guerras,
de uma vida sem sentidos,
de uma vida dedicada ao desamor...


domingo, 24 de maio de 2009

Poder e força

Poder e força

Noite passada, pleno outono, sonhei estar,
fortalecido em meus propósitos.
O mundo, temeroso, se dobrava aos meus
caprichos.
Triunfante, vi inimigos prostrados,
enfraquecidos, incapazes de reação.
Clamavam por misericórdia, por um
ato de piedade e compreensão.
Queriam, apenas, meu perdão.

Não sabiam, nem sequer imaginavam
que minhas forças, nesta noite de outono,
se concentravam apenas em apreciar
um luar tão brilhante.
Deixei-os ir.
Sem perdão e sem violência.

sábado, 23 de maio de 2009

Pedras e palavras

Pedras e palavras

Palavras, como pesadelos, podem
tirar-nos o sono.
Como noites mal dormidas podem
nos manter sonolentos,
meio vivos, meio mortos,
assombrados...

Como pedras podem ferir, ofender,
mudar a visão que do mundo se tem.
Podem cortar mais que facas,
mais profundamente que lâminas,
machucar muito mais que o silêncio...

Palavras, como o pão, devem ser
adequadamente pesadas e,
como alimento, servidas apenas.
Servidas. Nunca atiradas!

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Muito além do sonhado

Muito além do sonhado

A memória da alma
guarda, gravado a fogo,
cada movimento, por
menor que tenha sido,
do amor celebrado
na alcova dos sentidos.
E pode dizer cada detalhe,
dos olhares e gemidos
e dos líquidos ali presentes

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Poder do poema

Poder do poema

Ao contrário do que se imagina,
um poema,
qualquer poema,
não fica restrito ao que
parece dizer.
Um poema transcende seu espaço
e avança pelo mundo do impossível,
tornando-se o toque mágico
que liberta a alma,
que conserta pedaços de mim,
pedaços de nós!


Ilustração:
http://4.bp.blogspot.com/

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Tristeza

Tristeza

Quase sempre aparece alguém
pra me dizer que sou triste.
Dizem que o que escrevo mostra isto.
Respondo sempre, a todos,
que não sou triste...
Digo que, afinal, sou apenas
gente!

terça-feira, 19 de maio de 2009

Poente

Poente

Não conheço nada mais triste que o entardecer.
O sol, no poente, fugindo do céu, me lembra final.
E finais, para mim, são eternamente tristes.
O minguar do brilho do sol, o esvair do calor, o ocaso,
calam no meu peito como um pesado adeus...
Adeus que se repete no mesmo horário a cada dia,
a não ser que chova,
quando a dor é ainda maior...

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Meu lugar

Meu lugar

Apesar do adiantado da hora,
aqui estou...
Como se madrugador fosse.
Como se nem tivesse ido...
Daqui não mais arredo pé.
Mesmo que se por instantes
eu tiver de ir,
nada mais lá me segura...
Retorno assim que puder .
E mesmo se não puder.

Largo tudo e venho!

Este sempre foi meu lugar.
Ainda mais agora
que este lugar é,
também,
teu lugar...

Ilustração: La Gioconda, de Da Vinci

domingo, 17 de maio de 2009

Sorriso roubado

Sorriso roubado

No chão em que teus pés pisaram,
caminhei de rosto erguido,
o prazer estampado na cara.
Foi lá que meus olhos brilharam,
que me senti, uma vez, vitorioso.
Foi lá que encontrei a lua
e que de seu brilho provei.
Dela desvendei seus mistérios,
seus segredos, seus encantos.
E posso dizer agora,
que dela sorvi o sorriso
que agora consigo entregar.

No chão que teus pés pisaram,
quero saber ficar.
É lá que quero sorrir!

sábado, 16 de maio de 2009

Lua cheia

Lua cheia

A lua que surge enorme,
cheia,
no leste de nossas almas
parece adivinhar que a
noite é encantada.

Nasce de um dia banhado
de sol,
quente e longo,
como meus pensamentos
a teu respeito.


Talvez ela dure toda a noite
e, distraída, avance
pelo dia, amanhã,
empanando o brilho do sol.

Fica aqui.
Brilha pra mim.
Não deixe que ela, tão linda,
se imagine única no mundo...

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Visão, se possível

Visão, se possível

E sempre que eu precisar de ânimo,
quando a desesperança cair
como chuva fina e insistente.
Quando, alquebrado, estiver
a garganta seca,
com sede de muita fé.
Quando ao trocar os passos
meus pés já estiverem apenas
se arrastando como a própria
vida, só restará estender
minhas mãos secas,
buscando as tuas
e ter certeza de que este toque,
se possível,
ainda significará algum tipo
de comunhão.
A visão ainda possível da vida.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Silenciosa

Silenciosa

Mesmo que eu desejasse total silêncio
e tivesse poder absoluto para alcançá-lo,
jamais poderia atender minha vontade.
Tua presença, por mais tranquila que seja,
é tão incrivelmente sonora, impossível de
não ser ouvida, mesmo que permaneças
calada por todo o tempo.
E, também, visível, mesmo na mais
completa escuridão.
Manifestações típicas de quem nasceu
para se destacar, se fazer notar, existir,
brilhar...
Assim é você!
Impossível de ser invisível, silenciosa,
calada, esquecida...
Por mais que eu não queira perceber!

Ilustração: Mulher / Pablo Picasso

domingo, 10 de maio de 2009

Vento e vida


Vento e vida

Quebrando a magia da noite,
na madrugada tão fria,
feito meu coração,
caminha aquele homem estranho,
solitário e encolhido.

Vai depressa, sem saber destino,
ansioso por nada encontrar,
com pressa pra descansar.
Mal sabe que o tempo é
como vento, que passa sem
se importar com os estragos
que sabe provocar.

Volta para ninguém, para nada,
destino de todo vivente,
por mais que se queira enganar.

Há de terminar a noite.
Há de terminar o vento.
A vida, enfim!

Foto: bp1.blogger.com/.../906145798_eb2eb366e3.jpg

Grito

Grito

Desce pelas montanhas
um grito seco, desesperado,
que arrepia todas as almas
até então tranquilas.
Menos a minha!

Todos sentem um nó
na garganta que oprime,
assusta e faz
o sangue congelar nas veias.
Todos, menos eu!

Olhos esbugalhados,
tremendamente apavorados,
revelam o pavor que
cada um sente.
Cada um, menos eu!

Não sinto o nó na garganta.
Meu sangue não congela.
Meus olhos não mostram pavor.
O grito não me apavora.
O grito é meu!

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Boas notícias

Boas notícias
Nem todas as notícias que chegam da terra
são ruins.
Há as informações que falam de ti
e dizem da tua vida.
Motivos para que eu queira...
Para que eu faça viajar a mente.
E sonhe.
Engulo esta distância em segundos,
para me sentir ao teu lado,
lembrar o doce da tua presença,
ouvir,
finalmente,
as boas notícias da terra...

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Guerra suja

Guerra suja

O que eu não daria para resgatar da história
todas as derrotas que já sofri,
todos os recuos que eu pratiquei.

Onde está a honra desta luta insana?
Onde o caminho pra a vitória final?
Quantas vezes fui o ferimento,
o sangue que se derramou nesta
terra seca, neste fim de mundo
em que a vida se transformou.

Quantas vezes fui a lágrima doída,
o pranto que pelos mortos tantos
choraram?
Sou agora, travestido e sentido,
a ânsia de um fracasso anunciado,
de uma guerra suja, que o tempo
todo eu sabia, sem anunciar!


domingo, 3 de maio de 2009

Inverno

Inverno

Tardes menores, sol se despedindo mais cedo.
É o inverno que vem, que se aproxima,
como sempre.
Já se é possível sentir um arrepiar na pele,
um toque tão fresco, a prometer rigores nas noites.

Se inclemente,
brancas serão as manhãs deste inverno,
frias como o teu coração.
Se duradouro, castigando-me todo o tempo,
poderei chamar a estação, como intima

conhecida, por teu nome!

Anna Akhmatova

Primeiro aviso
(Anna Akhmatova - Poetisa russa)

De que nos importa
que tudo volte ao pó?
Sobre tantos abismos cantei,
em tantos espelhos vivi.
Não sou nem o sonho nem o consolo
e menos ainda o paraíso.
Talvez, mais do que o necessário,
te aconteça de relembrar
o sussurro destes versos que se acalma
e este olhar que oculta, bem lá no fundo,
no tremor de seu silêncio,
uma coroa de enferrujados espinhos.