quarta-feira, 27 de abril de 2016

2 POEMAS DE ARMANDO ARTUR - POETA MOÇAMBICANO



URGÊNCIA


É urgente inventar novos atalhos.

Acender novos archotes
e descobrir novos horizontes.
É urgente quebrar o silêncio,
abrir fendas no tempo
e, passo a passo, habitar outras noites
coalhadas de pirilampos.

É urgente içar novos versos,
escalar novas metáforas
recalcadas pela angústia.
É urgente partir sem medo
e sem demora.

Para onde nascem sonhos,
buscar novas artes de
esculpir a vida.



OS  FAZEDORES  DE  PROMESSAS


Como destilar verdades
nestas palavras com odor de mofo?
Até eu poderia emprestar-lhes um ar de sândalo
não fosse a febre noturna dos búzios.
Há muito que os fazedores de promessas
emigraram sem que ninguém os lembrasse
dos gestos obscenos deixados para trás.
Quantos sonhos cabem numa palavra?
Quantos sonhos cabem numa cabaça?
Diziam-me que o mundo era uma pertença de todos.
E enganaram-me quando não acreditei.
Pois as palavras já não enchem a panela de barro.
Só o inverno sabe o quão é difícil
suportar as folhas caídas nas estepes.
Mas nenhuma ausência os entristece?
Nem mesmo a dor que os alucina.




terça-feira, 19 de abril de 2016

Insistência





Quantas vezes percorrer, ainda,
aquele caminho?
Dores na alma mais que nos pés.
Impossível olhar para trás.
Olhar para a frente e nada
enxergar,,,

Quantas vezes, ainda, percorrer
aquele caminho?




quinta-feira, 14 de abril de 2016

Chove em mim




Passeiam pelo fim da tarde
todas as mágoas que
acumulo e
até as nuvens que vejo  encontram-se
em mim.
E
caminham para lugar algum.


Chove.
E nem assim minha
alma se aquieta.

O fim do caminho talvez o faça!




domingo, 10 de abril de 2016

Peso das palavras...




"As palavras podem não ter, em si,
qualquer mérito. Se
convenientemente utilizadas,
têm todos."



A. C. Rangel

quinta-feira, 7 de abril de 2016

RENATA CORREIA BOTELHO



Falhamos tudo: entregamos
os livros ao sepulcro
das estantes, ao amor

demos um colo de horas
certas, deixamos de abrir
janelas para cheirar a noite

já nada nos lembra
que o poema só se forma
no fio da navalha.




sábado, 2 de abril de 2016

O GRITO - RENATA PALLOTTINI




Se ao menos essa dor servisse
se ela batesse nas paredes
abrisse portas
falasse
se ela cantasse e despenteasse cabelos

Se ao menos essa dor me visse
se ela saltasse para a garganta como um grito
caísse da janela fizesse barulho
morresse

Se a dor fosse um pedaço de pão duro
que a gente pudesse engolir com força
depois cuspir a saliva fora
sujar a rua, os carros, o espaço, o outro
esse outro escuro que passa indiferente
e que não sofre tem o direito de não sofrer

Se a dor fosse só a carne do dedo
que se esfrega na parede de pedra
para doer doer doer visível
doer penalizante
doer com lágrimas

Se ao menos essa dor sangrasse



sexta-feira, 1 de abril de 2016

ANTONIO ORIHUELA




Mostro-lhe o último poema que fiz,
diz-me que espere.
que tem a comida ao lume.

Censuro-lhe a indelicadeza,
o incerto amor pelas letras.

Diz-me que não voltará a acontecer.

Os dias passam.
Farto de comer tudo queimado,