sexta-feira, 31 de julho de 2009

Contar os números


Contar, com tanto prazer, números.
Como se em sequências exatas numerássemos triunfos
Até fracassos, talvez...
Todos conhecidos, memorizados.
Contar, entre tantos abraços, números.
Como se a soma, cada vez maior,
atestasse crescimento.
Lembrar tempos passados,
ainda ali,
tão perto.
Imaginar futuros possíveis.
Possíveis?...

Ilustração: geek42

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Ausência


Mais que tua ausência,
marca forte minha boca
aquele sabor de noite, de bruma,
o cruel açoite daqueles ventos,
que juntos arrebatamos.
Ainda ardem nos meus olhos
aquelas tardes frias
que insistimos em desafiar.
Pesam ainda em meus ombros
aqueles coloridos sonhos e
aqueles desbotados dias
que escorriam por entre nossos dentes...

Mais que tua ausência,
sinto falta de mim!
Ilustração: dialogos-impertinentes

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Reinício

Acreditar nas virtudes dos homens,
na textura dos ventos,
na pureza dos dias.
E conduzir os passos seguros,
os olhares serenos,
as palavras completas
ao deserto da eternidade...

E recomeçar!


Ilustração: claudiohumberto

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Descaso

Teci cuidadosamente um novelo
de realidades, de nuas verdades,
que embaçam meus olhos, que
não me deixam enxergar...
Escancaradas, estas expostas verdades
desamparam estas festas dos sonhos,
por traz das quais me oculto.

O novelo colorido, com garras de feras
cansadas, se guarda no tempo, se torna
eterno,
seduz os meus dias,
habita em mim...

Ilustração: 2.bp

domingo, 26 de julho de 2009

Senhor do nada


Sou fabricante de sonhos,
inventor de todos os silêncios,
aquele que semeia os ventos,
o que faz correr todas as idades...

Sou o que o veneno não vinga,
o que chora nas manhãs,
poupando todas as tuas lágrimas.

Sou o dono de todas as sombras
e de todas as sementes
e dos canteiros já feitos,
Senhor de tudo e de todos,
herdeiro da solidão...

Ilustração: geocities

sábado, 25 de julho de 2009

Manhã


Manhã de luzes sedosas,
brilhantes,
parece chegar num instante,
mansamente,
ocupando seu espaço.
E o sol, disfarçadamente,
assume seu comando e aquece,
sem pressa,
lentamente,
o lugar que você deixou,
frio,
vazio completamente...

Ilustração: Tarsila do Amaral / auto-retrato

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Aquela rosa branca


Porque das rosas extraio prazer,
amo-as como se mulheres fossem.
Recatadas algumas, as brancas
principalmente,
seduzí-las eu quero.
E não preciso canteiros, braçadas.
Uma única desejo.
Eterna.
Branca eterna rosa...

Ilustração: 3.bp

Mares


Todos os caminhos percorridos
têm destinos certos, sabidos.
Todos os ventos, mesmo os mais frios
nos envolvem.
Como um olhar apaixonado.
Como um sorriso franco,
que o destino prepara.
Assim, de confortos passageiros,
segue a vida...
Singrando mares tão revoltos
quanto calmos.
Convém, todavia,
saber remar!
Ilustração: 2.bp

terça-feira, 21 de julho de 2009

Rosas

O espinho da rosa fere
e sangra e dói,
tal qual teu sorriso
triunfante.
Viver sem mim é possível.
Até mesmo para as rosas...
Ilustração: esgamoniz2

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Tempo


Ainda que eu quisesse
que tudo voltasse a ser
como nunca foi,
o Tempo,
Senhor dos fatos e da vida,
por certo usaria seu
poder de veto
para que tudo permanecesse assim,
na mais perfeita
desarmonia:
você lá,
eu cá...

Ilustração: furteotempo.files

sábado, 18 de julho de 2009

João de Melo


Poema da Mulher
(João de Melo)

Amo a beleza clara e justa da mulher.
Amo o que nela arde a sua pele serena
o corpo liso a cabeça pousada na mão.
Amo o sorriso por vezes triste o modo
como me olha entre a dúvida e o amor.
Sobretudo amo-a por a ouvir dizer-me
olá e depois é como se a voz abrisse um
caminho entre a minha e a vida dela.
Então tudo em mim lhe comunica um mundo
que estando do lado de cá passa para
o centro dela e fica dentro da sua alma.
Amo-a afinal toda e inteira e desperta
ou adormecida no íntimo do continente
ou na parte mais alta de qualquer ilha.
A mulher que eu amo é um ser de partida
que de vez em quando regressa à minha mão.
Ela não sabe mas há em mim uma maneira
de ir com ela e uma outra de a esperar.
Parto no navio alto e branco do seu ser
espero-a à chegada do vento que a anuncia
presente sentada na bainha da minha alma.


Ilustração: nuaideia

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Opostos


Quando eu for verdade, insista na mentira.
É de contrariedades que se fazem os grandes momentos.

Quando eu for noite, que brilhe teu sol.
Os opostos se atraem, diz a sabedoria popular.
Não me imite, divirja.
Me enfrente!
Seja inverno quando eu for verão, prosa quando
eu for verso, amarga quando eu for chocolate,
meio quando eu for ponta...

Diferencie-se para complementar.
Fale, quando eu me calar.
E agora, pra começar,
não concorde...


Ilustração: abjnoticias

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Eterna aventura

Embrenhe-se na mata, mais e mais.
Pouco importa o caminho, o percurso,
busque o eldorado sem cessar.
Não há luta inglória, nem heroísmo exemplar,
se na busca o empenho persistir,
sempre.

Escale montanhas, desça as encostas dos vales,
aqueles mergulhados nas sombras eternas,
onde os espinhos calam fundo,
ferem a alma.

E se no final de tudo, nos últimos momentos da vida,
perceber que nem saiu do lugar, não se assuste.
Saiba, assim é a vida.

Ninguém nunca chegou lá!

Ilustração: farm2.static.flickr

terça-feira, 14 de julho de 2009

Pecado

Por excesso de amor,
fui expulso do Paraíso.
Só me resta, agora, me aliar aos errantes,
aos impuros e criminosos
e aceitar o merecido castigo.
E aguardar tua chegada...
Afinal, não pecamos juntos?
Ilustração: becodocrime

Como se eu fosse...


Como se eu fosse um condecorado soldado
da guerra pelo que não acredito,
voluntário insone da luta para
preservação do equívoco,
apresento minhas indecentes armas,
feitas para manter os privilégios e
favores.

Como se eu fosse o paladino dos ideais mais conservadores,
implacável defensor dos preceitos mais arcaicos,
participante de retrógradas e secretas sociedades:
morri...

Bendita seja a morte que evita o compromisso
com tudo aquilo em que não se acredita...

Ilustração: n.i.uol

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Anseio

Guardo, de ti, tão marcantes,
o olhar calmo, tranquilo
que nunca se apagou,
teus cabelos sedosos,
perfumados,
com cheiro de flor
e o sorriso envolvente,
franco e sincero,
que, ainda ansioso,
anseio e espero...

Ilustração: vcasar.files

sábado, 11 de julho de 2009

Velho mapa

Ah! Minha vida perdeu-se neste emaranhado
de dias confusos, nestes olhares de repreensão,
neste nervoso bater de dedos sobre a mesa da discórdia.
E meus olhos, ardentes de noites em claro,
já não conseguem se fixar em nada.
Cansados, querem apenas o consolo das lágrimas.
Ah! Por caminhos desconhecidos, há muito, me perdi
e não tenho mais o velho mapa da volta para casa!
Ilustração: wikipedia

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Rotina

Todos os dias sinto o perfume da saudade,
sinto a dor da ausência,
vejo o sorriso do desprezo.

Todos os dias meço a distância intransponível,
peso a tristeza acumulada,
ouço o grito do silêncio.

E todos os dias penso em você.
E o ciclo recomeça...

Ilustração: 2.bp

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Minha coleção


Coleciono os sorrisos que vi em teus lábios.
Guardei cada um deles numa folha de um
imáginário album, que tranco naquele armário.

As chaves do armário, joquei fora!
A coleção é particular e não quero ninguém
mexendo nela...

Ilustração: oqueeisso.blog

quarta-feira, 8 de julho de 2009

As chuvas


Quando o céu tornar-se negro contrariando aquele azul profundo.
Quando o vento forte e quente
der vez àquele chicotear gelado e úmido.
Quando do céu verter aquela chuva,
aquela assustadora tempestade,
saberei que o perdão me foi concedido
e que o temporal veio para
lavar meu peito e minhas dores.
Veio para limpar minhas marcas e manchas.
Saberei, quando terminar a chuva,
que olhos devo enxugar,
que almas acolher
e o modo de fazer.

Ilustração: geocities

terça-feira, 7 de julho de 2009

Juntos


E, juntos, despertamos deste século de trevas.
Juntos, ainda, conseguimos traduzir todas as palavras da noite,
ditas em murmúrios
sem qualquer sentido...
E, assim, atravessamos, sempre próximos,
os raios de sol daquela
impossível distante manhã de maio.


Ilustração: anamar.blogs.sapo

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Monotonia


E as paisagens monótonas, repetidas
que vejo pela janela deste trem,
como os dias da minha vida,
de nossas vidas, atenção,
trazem algo de novo, diferente
a cada vez mais longos
espaços de tempo.

No mais, no normal, é um
enfadonho repetir de fatos
e de emoções que já nem nos fazem
vivos,
mas passageiros de destino certo
e infeliz.

No desperdício de tanta paisagem,
de tantos dias,
repousa a falta de ousar, de atrever,
repousa a covarde, imperdoável
falta de viver!

Ilustração: magno.files.wordpress

domingo, 5 de julho de 2009

Um pouco de sonho


Quem de sonhar está livre?
Cruel rotina somente,
limitado ao equilíbrio.
Quem de sonhos prescinde,
despreza prazeres iguais?

Heróis, abnegados, escravos,
não sentem o gosto do mar.
Realistas,
sem um pouco de sonho
sequer!


Ilustração: 1bp.blogspot



sexta-feira, 3 de julho de 2009

Como o tempo


Como o tempo, eterno,
espero pelo correr dos teus dias,
dos teus sóis e luas,
pela intensidade da tua voz,
pela tua verdade...

Como o tempo, ilimitado,
grito a plenos pulmões
este cansaço da espera,
este trilhar do equivocado,
do errado caminho...

Como o tempo, infinito,
sento e aguardo, tranquilo,
o nunca...

Ilustração: tramandoapaz.ceas

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Mais um adeus

Meu velho coração,
em frangalhos,
não vai suportar mais este
adeus...
Melhor ausentar-me
durante a conversa,
mesmo sem daqui
me mover.

Vou olhar as estrelas.
Tão frias,
tão distantes,
tão impessoais.

Eu as entendo.
Afinal,
quantas vezes
ouviram conversas
iguais a esta?

Ilustração: wp-content