sexta-feira, 3 de novembro de 2017

NUNO JÚDICE



EXERCÍCIO



Pego um pedaço de silêncio. Parto-o ao meio
e vejo saírem de dentro dele as palavras que
ficaram por dizer. Umas meto-as num frasco
com o álcool da memória, para que se
transformem num licor de remorso; outras,
guardo-as na cabeça para as dizer, um dia,
a quem me perguntou o que significavam.
Mas o silêncio de onde as palavras saíram
volta a espalhar-se sobre elas. Bebo o licor
do remorso; e tiro da cabeça as outras palavras
que lá ficaram, até o ruído desaparecer, e só
o silêncio ficar inteiro, sem nada por dentro.




3 comentários:

Jaime Portela disse...

Gosto da escrita do Nuno Júdice.
E este poema não foge à regra, porque é excelente.
Bom fim de semana, caro Alfredo.
Abraço.

Graça Pires disse...

O poeta Nuno Júdice é um dos meus preferidos. Encontro-me quase sempre naquilo que ele escreve. Aconteceu com este poema. Que bom encontrá-lo aqui...
Uma boa semana, meu Amigo.
Um beijo.

Jaime Portela disse...

Passei para ver as novidades.
Aproveito para lhe desejar um bom fim de semana, caro Alfredo.
Abraço.