por trás daquele relógio imenso - aquele ali da praça, sabe? – tantas indefinições, dúvidas e medos, quê, esquecê-las ali, em lugar tão remoto, parece mesmo ser a melhor solução. Só não conseguimos esconder tudo isto do Tempo, que o mesmo relógio conduz...
Será que aquele sorriso franco, cativante, espontâneo que tanto me encanta e que parece trazer a luz do sol para um pouco mais perto de mim só cabe naquele velho porta-retrato?
"Uma bicicleta emergia lentamente da bruma. Uma menina usando um vestido branco descia a encosta pedalando na minha direção. Na contraluz do amanhecer, eu podia adivinhar a silhueta do seu corpo através do algodão. Uma longa cabeleira cor de feno ondeava escondendo o rosto. Fiquei ali, imóvel, contemplando-a enquanto se aproximava, como um imbecil com ataque de paralisia. A bicicleta parou a uns 2 metros de mim. Meus olhos, ou talvez a minha imaginação, adivinharam o contorno de pernas esguias tentando alcançar o chão. Meu olhar subiu por aquele vestido que parecia saído de um quadro de Sorolla e foi parar num par de olhos de um cinza tão profundo que alguém poderia cair lá dentro. Estavam cravados em mim com olhar sarcástico. Sorri e ofereci minha melhor cara de idiota".