Vidraça

Desembaraça teus sonhos

mais iminentes

e quebra esta vidraça que

mais esconde do que mostra,

mesmo que tua mão sangre...

É este o gesto que matará

nossa sede!

ilustração obtida em alosertao.com.br

Tua flor...

"Guarda esta palavra, 

que te digo hoje

e cuida dela pra mim.

Ouça-a sempre que quiser,

que puder.

Cultive-a, como se uma

flor fosse.

Ela é tua.

E breve poderás colhê-la

porque ela também é

minha."

Ilustração obtida em torange.pt

Seja...

seja a sede que tua boca

seca deseja,

o impulso que tua vida quer,

seja o suor que o sol

te impõe,

a bruma que esta manhã

desfila.

seja o carinho que teus pés cansados

perseguem,

o desvio que a mágoa te

obriga, seja o sonho

que um dia pedi

e o sol que te abrasa a vida.

seja eu!

ilustração obtida em obynorismo.blogspot.com

Brilho

Como não sentir

no ar, não ouvir alto e

bom som,

novos tempos sufocando 

o cansaço, a

rotina de maus

presságios e da enorme

mentira de todos

estes anos!

Brilha, ainda que aparentemente

tardio. o mais

lindo e prateado

luar

da minha história...

ilustração obtida no blog pmoraes.wordpress.com

Porta de bar...

Roda de amigos na porta de um bar.

Ou será lugar mais recomendável?

Um orfanato, talvez!

Pouco importa.

Não pude estar com você...

ilustração: obtida em mensagensdeamor.com

Descaminhos

Já não sinto que minhas

pegadas,

como antigamente,

trilham caminhos sonhados...

Como nunca,

meus pés se embaralham e

meus passos,

confusos,

teimam em se desencontrar!

Ilustração obtida em poesiacaminho.blogspot.com

Quase calado

Sinto ali, jogadas pelo chão,

as palavras que economizo,

os sons que não emito,

frases não construídas...

Desconheço a profundidade

deste silêncio e

cada vez mais me convenço

de que, com certeza, já não tenho

voz...

ilustração: Retrato del doctor Gachet, Vincent Van Gogh
                isacfeingol.blogspot.com

Apelo

Os gritos agudos

desta escuridão que no meu quarto

roubam meu sono e dilaceram

meus sonhos,

somente se calarão

quando,

cortantes armas brancas e

frias,

se abaterem sobre mim.

Afie a luz dos teus olhos, então,

e fira-me

quase de morte!

ilustração obtida em preciolandia.com

Verdade

Não há como desviar da verdade,

da vida de ajustes das passadas

contas, do gosto do fel  e da

impotência grotesca.

Nem como evitar esta brisa do

mar que, insistentemente, nos

envolve.

Nem há como negar a verdade.

Afinal!

ilustração obtida em jornalexpresso.com.br

Abismos

Será o silêncio o segredo?

A distância, tábua de salvação?

A vida, tão decantadamente preciosa,

flui como todo e qualquer destes

grandes rios, tão poluídos,

tão miseravelmente feios.

E não temos tempo para a vida.

Espécie de covardia assumida,

conhecida e constante,

a calar-nos e a transformar presenças

em abismos.

O silêncio, esculpido em pedras

de tão pouco valor é a herança

a que, merecidamente, temos

direito.

Imagem obtida em denisefigueiredopassos.blogspot.com