sexta-feira, 9 de outubro de 2015

As palavras começam a ficar velhas





MARIA  DO  ROSÁRIO  PEDREIRA


As palavras começam a ficar velhas: têm
dores nas articulações e rangem, de vez
em quando, sem razão: reclamam óleos
e resina, tempo e açúcares mais lentos.

Mas também eu estou velha demais para
oficinas, tão cansada de livros e papéis,
morta por viver outras coisas - por amor.

Talvez espreitasse de novo nas mangas do
mundo e escrevesse uma fiada de búzios
no pulso da areia. Mas quantos dos teus
beijos perderia? Perdoem-me os que

ainda esperam por mim. Não sei se volto.




Ilustração obtida no dn.pt


2 comentários:

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

...é assim mesmo: sem tirar nem por!

Valéria disse...

Rangel, este poema, quando leio, me deixa sempre com uma sensação de adeus.
"As palavras começam a ficar velhas", mas,...
os poetas?
Eles cansam?
Envelhecem na criatividade?
Será?
Ou apenas dão "um tempo"?
Abraços
Valéria