sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Bibliotecas


No pesado silêncio das bibliotecas
crescem monstros pavorosos.
Assustadores e extremamente agressivos,
poderiam provocar grandes tragédias.
Só não o fazem porque
adoram ler.
Livros os acalmam e os transformam
em dóceis e cultos bichinhos.
E é isto também que mantém
meus fantasmas calados.


Ilustração: sardera

sábado, 23 de outubro de 2010

Horizonte


Não há dor
de nenhuma intensidade
quando no horizonte
não consigo te encontrar.
Não há prazer
qualquer que seja
quando na solidão
não consigo te encontrar.
Não há nada.
Em qualquer horizonte.


Ilustração: dreamstime


quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Como faca


No gume desta faca é que se
conhecem os mais puros.
É no corte afiado dela,
no destrinchar das sangrentas vozes
que se colocam em ordem
os pensamentos, as vontades.
É no gosto, no sabor do sangue
dos inocentes que se fazem
os culpados...

Os passageiros e os eternos.
Os reais e os imaginários.



Ilustração: oimparcial

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Queimadas


Arde o fogo nas matas.
Incêndios criminosos, até.
Riscos e sustos.
Fogo ateado,
calor friamente calculado...

Como fizeram
covardemente
com meu coração.


Ilustração: gestorwillian

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Espelho


Diante daquele velho espelho,
inclemente,
na dobra da minha pele, encontro,
escondida,
tua presença.

Diante daquele mesmo espelho
onde,
sorridente,
você se vestia,
se maquiava,
se admirava.

Para mim!


Ilustração: 04olx

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Previsão do tempo




É preciso, ao menos,
saber sentir da vida
os momentos de sol
e guardar, também,
os de chuva.

Assim são os dias.
Alternados:
dois dias de chuva
para meio de sol.

Ilustração: files.wordpress


sábado, 9 de outubro de 2010

Tolos sonhos


Nos é lícito sonhar?
Imaginar perfeições,
caminhar por doces percursos
mesmo que,
travestidos de pessoas normais,
conscientes das impossibilidades do céu?

Voltemos a ser apenas seres humanos
desmistificados e obtusos
diante de nossas incapacidades.

Felizes os tolos,
de todas as espécies, que,
livres e inconseqüentes
fazem o que é lícito:
Sonham!


Ilustração: spaces.cauv8hla

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Pressa


Vento que sopra e, soberano,
levanta o pó destas ruas,
desta vida.
Vento que revoluciona o
que o tempo fez acomodar.
Vento que, violento, sacode
este velho marasmo.
Que expõe aos olhos o que já
não tinha vida.

Apresse-se!

Lembre-se que, de repente,
o vento pára e
o que voltou a ter vida,
retorna!


Ilustração: legribel

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Do silêncio, as faces!


Não se pode falar em Paz
sem que se pense no silêncio.
No, cada vez mais difícil, silêncio.
Inimigo do erro cometido,
juiz de toda atitude,
omissão, às vezes.
Tortura de algumas almas,
bálsamo de outras vidas.
Silêncio que se faz depositário
do segredo, do irrevelável.
Silêncio da capitulação,
da entrega, da desilusão.
Silêncio do total amadurecimento,
da melhor demonstração do Saber.
Silêncio que antecede o definitivo,
Silêncio!
Ilustração: lisacom

sábado, 25 de setembro de 2010

Não sou...


Não sou esta erva rasteira,
este resto de natureza,
abjeto, sem valor.
Nem este pedaço de céu tão limpo,
puro, pedaço de aventura.
Não me encontras nos teus sorrisos,
nem mesmo na tua dor.
Não sou este rio imenso,
nem esta simples gota de chuva,
tão pequena, tão meiga.
Não sou esta pedra esquecida,
resto tão belo de vida,
nem a areia deste deserto.

Sou apenas este sopro de vento que,
de noite,
nas quentes noites de outubro,
nem sempre,
te desperta!