quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Não me fale deste amor

Não me fale deste amor
Não me fale deste amor desta maneira,
como se tivesse sido apenas coisa do passado.
O amor é. Ele nunca foi.
Não me fale deste amor
como quem fala de papel rasgado,
velhas anotações,
já sem qualquer valor,
a serem descartadas.
Me fale deste amor como coisa viva,
como o sangue que corre em tuas veias,
como a luz do sol que,
abrasadora,
queima a tua pele como fogo.
Me fale deste amor como coisa viva,
como o mar imenso que em seu movimento
faz o pescador alerta e esperançoso.
Não me fale deste amor desta maneira,
como se tivesse sido apenas coisa do passado...
Foto: http://www.blog.uncovering.org
Espelho
Espelho
Olhe através daquele espelho.
Ultrapasse a bruma que se forma
em sua superfície.
Entre no mundo encantado que
ele encerra.
Veja a paisagem fantástica que
ele apresenta à sua entrada.
Prove da água fresca e cristalina
do rio que corre transparente
aos teus pés.
Aventure-se por entre as
flores que formam o magnífico
jardim que lá existe e que
a gente não se cansa de olhar.
Sinta o perfume que ele exala.
Sonhe!
É tudo um sonho.
Passe lá o dia, antes de
retornar à vida real.
Antes de sair, acene para mim.
Estive lá e, mesmo sem você
perceber, te acompanhei neste
sonho.
Sonhe sempre assim,
ao meu lado...
Foto: http://aquiloquequiseres.blogs.sapo.pt
domingo, 26 de outubro de 2008
Amanhecer

Amanhecer
E o sonho veio.
Carregado de cores e de imagens,
exatamente como eu havia desejado.
E despejou tanto sol nesta manhã
que toda mágoa e desesperança
que se deitaram comigo na noite passada
se evadiram, fugiram cabisbaixos,
deixando um gosto de
te quero
nesta manhã tão limpa
e perfumada...
Foto: http://www.davi-pensador.blogspot.com
Parar o tempo!
Alma tua
Sentimento

Sentimento
Ela principiou num dia de sol
e caiu como não fazia há tempos.
Levou com ela toda esperança
que eu tinha, me deixando
orfão de sonhos.
Expôs, durante seu trajeto,
um grande pedaço de meu coração,
exibido como se fossem apenas
chagas sangrentas,
causa de dores lancinantes.
E ela demorou a rolar,
a cair definitivamente.
Arrastou-se lenta e
dolorosamente.
Foi única. Não foi seguida
por nenhuma outra.
Mas foi marcante.
Fez estragos,
foi fulminante.
Perdi você.
Logo depois dela.
Logo depois daquela tua lágrima.
Lágrima que verteu tua mágoa
e que me foi fatal...
Fez estragos,
foi fulminante.
Perdi você.
Logo depois dela.
Logo depois daquela tua lágrima.
Lágrima que verteu tua mágoa
e que me foi fatal...
Foto: http://www.pensadora2.blogs.sapo.pt
Vazio
Sophia de Mello Breyner Andresen

Quando
(Sophia de Mello Breyner Andresen)
(Sophia de Mello Breyner Andresen)
Quando meu corpo apodrecer e eu for morta
Continuará o jardim, o céu e o mar
E como hoje igualmente hão de bailar
As quatro estações à minha porta.
Outros em abril passarão no pomar
Em que tantas vezes passei
Haverá longos poentes sobre o mar,
Outros amarão as coisas que amei.
Será o mesmo brilho a mesma festa
Será o mesmo jardim à minha porta
E os cabelos doirados da floresta
Como se eu não estivesse morta.
Foto: http://baixaki.ig.com.br
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
Lucidez

Lucidez
Como um pedaço de papel dançando
em plena ventania de agosto ou
como garrafa vazia atirada ao mar,
sei muito bem para onde vou...
Como um bêbado amante da madrugada
naquele mesmo bar de sempre ou
como um papagaio preso na gaiola,
sei muito bem o que vou dizer...
Como um milenar pedaço de pedra
jogado por acaso à beira da estrada ou
como aquele fantoche amarrado à árvore,
sei muito bem quem sou...
Quem, além de mim, se conhece tão bem?
Quem, além de ti, me conhece tão bem?
Foto: http://www.papagaio.wordpress.com
Como um pedaço de papel dançando
em plena ventania de agosto ou
como garrafa vazia atirada ao mar,
sei muito bem para onde vou...
Como um bêbado amante da madrugada
naquele mesmo bar de sempre ou
como um papagaio preso na gaiola,
sei muito bem o que vou dizer...
Como um milenar pedaço de pedra
jogado por acaso à beira da estrada ou
como aquele fantoche amarrado à árvore,
sei muito bem quem sou...
Quem, além de mim, se conhece tão bem?
Quem, além de ti, me conhece tão bem?
Meus sonhos
Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)

Quem me dera
(Alberto Caeiro/Fernando Pessoa)
Quem me dera que eu fosse o pó da estrada
E que os pés dos pobres me estivessem pisando...
Quem me dera que eu fosse os rios que correm
E que as lavadeiras estivessem à minha beira...
Quem me dera que eu fosse os choupos à margem dos rios
E tivesse só o céu por cima e a água por baixo...
Quem me dera que eu fosse o burro do moleiro
E que ele me batesse e me estimasse...
Antes isso que ser o que atravessa a vida
Olhando para trás e de si tendo pena...
(Alberto Caeiro/Fernando Pessoa)
Quem me dera que eu fosse o pó da estrada
E que os pés dos pobres me estivessem pisando...
Quem me dera que eu fosse os rios que correm
E que as lavadeiras estivessem à minha beira...
Quem me dera que eu fosse os choupos à margem dos rios
E tivesse só o céu por cima e a água por baixo...
Quem me dera que eu fosse o burro do moleiro
E que ele me batesse e me estimasse...
Antes isso que ser o que atravessa a vida
Olhando para trás e de si tendo pena...
Foto: http://www.ptencontro.blogspot.com
terça-feira, 21 de outubro de 2008
Meu coração

Meu coração
Paro e penso e lembro
daquele beco vazio onde,
tantas vezes passei.
Era estranho, assustador até.
Aquelas paredes nuas,
lavadas
e nada para quebrar
aquela ausência de tudo.
"Nunca vi lugar tão estranho,
tão abandonado",
pensava eu.
Hoje sei de outro lugar
igual àquele.
Ou será pior?
Meu coração é assim...
Foto: http://www.setbb.com
Velhos e novos amores
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
Rápida passagem
Pronunciamento
Adélia Prado

Orfandade
(Adélia Prado)
Meu Deus,
me dê cinco anos.
Me dê um pé de fedegoso com formiga preta
Me dê um Natal e sua véspera,
o ressonar de pessoas no quartinho.
Me dê a negrinha Fia pra eu brincar.
Me dê uma noite pra eu dormir com minha mãe.
Me dê minha mãe, alegria sã e medo remediável,
Me da a mão, me cura de ser grande.
Ó meu Deus, meu Pai,
meu Pai.
Foto: http://www.atitudesconcretas.blogger.com.br
sábado, 18 de outubro de 2008
Exatamente igual

Exatamente igual
Não sou como o equilibrista do circo que,
com a maior facilidade,
anda no arame como se
no chão estivesse.
Não sou como a água que,
naturalmente se acomoda a
qualquer recipiente
assumindo-lhe exatamente a forma.
Não sou como o carvalho gigante que,
apesar do tamanho,
parece tão calmo, tão tranquilo
e que do seu lugar não arreda pé
por nada.
Sou exatamente como o vidro que,
ao menor choque,
se parte, quebra, se desmancha.
Sou exatamente como o pó que,
ao menor sinal de brisa,
se desfaz no ar.
Sou exatamente igual à
água da chuva que,
terminada a tempestade,
se infiltra pelo chão
e desaparece.
Sou apenas
gente
que, sempre que é maltratada,
sofre e chora...
Foto: http://www.presentepravoce.wordpress.com
Não vamos falar da lua

Não vamos falar da lua
Não vamos falar da lua.
Nem vamos falar de nós...
Tantas coisas a serem ditas.
Tanta vida transcorrida.
Encantos, desencantos,
verdades, inverdades.
Não vamos falar da lua.
Nem vamos falar de nós...
Espera incansável.
Certeza inabalável.
Tantas lágrimas, tantos sorrisos,
é a vida, somos nós
Não vamos falar de lua.
Nem vamos falar de amor !!!
Eu e o rio
Você veio

Você veio
Vindo de terras distantes
o momento pareceu grave
e imaginei, por instantes,
que chegara o momento do adeus.
De formas estravagantes,
tão viril, tão impertinente,
parecia não haver saída.
Mas eis que a palavra
surpreende e,
ao contrário das evidências,
teu olhar se desvanece e
numa explosão de luz
você terna e simplesmente
me diz:
-"Te amo".
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
Arte do amor

Soubesse eu escrever,
tivesse o talento de um poeta,
te descreveria em versos,
no poema mais lindo...
Fosse eu um pintor,
destes de primeiríssima linha,
te retrataria em cores vivas,
na tela mais premiada...
Se escultor eu fosse,
dos mais respeitados do mundo,
te materializaria em mármore,
na peça mais expressiva...
Sendo eu quem sou,
só reconheço em mim um talento.
Amar-te acima de tudo,
ter encontrado você !!!
Foto: http://www.diadenamorados.info
Soneto da vida

Soneto da vida
A vida, como mar revolto, transpira perigo.
Exige comando seguro, escolhas certas.
Mansão assombrada, janelas fechadas, portas abertas.
Fantasmas, sustos e medos. Fica comigo!
A vida, como porto seguro, tem dias felizes.
Praias ensolaradas, brisa suave, doce sabor.
Oferece momentos marcantes, alegria, amor.
Flores, romance, carinho, tudo o que me dizes...
A vida é desafio, enigma, mistério, surpresa...
Dias bons, dias ruins, experiências acumuladas.
Dela se guardam dores, carinhos, sorriso, tristeza...
Não se passa impune por ela, disfarçadamente.
Não se fica apenas com as coisas ruins...
Nem a alegria e o amor duram eternamente.
A vida, como mar revolto, transpira perigo.
Exige comando seguro, escolhas certas.
Mansão assombrada, janelas fechadas, portas abertas.
Fantasmas, sustos e medos. Fica comigo!
A vida, como porto seguro, tem dias felizes.
Praias ensolaradas, brisa suave, doce sabor.
Oferece momentos marcantes, alegria, amor.
Flores, romance, carinho, tudo o que me dizes...
A vida é desafio, enigma, mistério, surpresa...
Dias bons, dias ruins, experiências acumuladas.
Dela se guardam dores, carinhos, sorriso, tristeza...
Não se passa impune por ela, disfarçadamente.
Não se fica apenas com as coisas ruins...
Nem a alegria e o amor duram eternamente.
Foto: http://fabreubrazil.spaces.live.com
Cecília Meireles

Retrato
(Cecília Meireles)
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- em que espelho ficou perdida
a minha face?
(Cecília Meireles)
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- em que espelho ficou perdida
a minha face?
Foto: http://www.revolucaodigital.net
Ilusão

Ilusão
Queria te falar de um povo,
que eu nunca conheci.
Te levar a distantes lugares,
para onde nunca fui.
Caminhar por extensos desertos,
por onde nunca andei.
Repetir as mesmas viagens,
que nunca fiz.
Te mostrar províncias conquistadas,
o que ainda não consegui.
Te contar tão antigos segredos,
que jamais vi revelados.
Derrotar valorosos soldados,
que eu nunca combati.
Te entregar terras tão valiosas,
que ainda não habitei.
Te dizer da maior homenagem,
que até hoje não recebi.
Te falar de um grande amor,
que ainda não vivi.
Queria te falar de um povo,
que eu nunca conheci.
Te levar a distantes lugares,
para onde nunca fui.
Caminhar por extensos desertos,
por onde nunca andei.
Repetir as mesmas viagens,
que nunca fiz.
Te mostrar províncias conquistadas,
o que ainda não consegui.
Te contar tão antigos segredos,
que jamais vi revelados.
Derrotar valorosos soldados,
que eu nunca combati.
Te entregar terras tão valiosas,
que ainda não habitei.
Te dizer da maior homenagem,
que até hoje não recebi.
Te falar de um grande amor,
que ainda não vivi.
Foto: http://macondo.blogs.sapo.pt
Procurar
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Manuel Bandeira

Desencanto
(Manuel Bandeira)
Eu faço versos como quem chora
de desalento... De desencanto...
Fecha meu livro, se por agora
não tens motivo nenhum de pranto
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... Remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
assim dos lábios a vida corre
deixando um acre sabor na boca.
- Eu faço versos como quem morre.
(Manuel Bandeira)
Eu faço versos como quem chora
de desalento... De desencanto...
Fecha meu livro, se por agora
não tens motivo nenhum de pranto
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... Remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
assim dos lábios a vida corre
deixando um acre sabor na boca.
- Eu faço versos como quem morre.
Foto: http://www.armandonogueira.com.br
Cores
Alma Gêmea

Alma Gêmea
Palavras ditas, espalhadas pelo ar,
irrecolhíveis, indestrutíveis, frias,
imbecilmente pronunciadas.
Veneno inoculado sem pensar.
Amor puro, verdadeiro, imenso.
Único antídoto contra este mal.
Extirpa-o sem necessidade de
quarentena, sequer.
Remédio apaixonado, infalível.
Coisa de alma gêmea.
Palavras ditas, espalhadas pelo ar,
irrecolhíveis, indestrutíveis, frias,
imbecilmente pronunciadas.
Veneno inoculado sem pensar.
Amor puro, verdadeiro, imenso.
Único antídoto contra este mal.
Extirpa-o sem necessidade de
quarentena, sequer.
Remédio apaixonado, infalível.
Coisa de alma gêmea.
Foto: http://www.arcoiris_davida.blogs.sapo.pt
Desafio

Desafio
Quisera encontrar o sorriso,
o mais bonito do mundo,
o que me desse certeza de
estar diante do paraíso.
Aquele que me trouxesse
calma, a suprema felicidade,
me trouxesse tranquilidade
me mostrasse a perfeição.
Suprema exigência, a minha,
sei que pensa você.
Como pode desejar tanto?
Você se pergunta incrédula.
Surpreenda-se e acredite,
encontrei este sorriso perfeito.
Não é possível que exista?
Sorria, então, diante do espelho.
Foto: http://www.lourilandia.com.sapo.pt
Estar com você

Estar com você
Eu só queria estar com você!
Tantos compromissos,
Agenda tomada,
São tantos contatos, encontros,
intermináveis reuniões.
Tanta responsabilidade,
Tão pouca liberdade...
Saudades de você.
Fechar aquele negócio,
visitar tantos clientes,
testar aquela amostra,
fazer aquele pedido.
Não adianta...
O que estou fazendo aqui?
Eu só queria estar com você.
Jogar fora a gravata
e estar só com você...
Sempre...
Tantos compromissos,
Agenda tomada,
São tantos contatos, encontros,
intermináveis reuniões.
Tanta responsabilidade,
Tão pouca liberdade...
Saudades de você.
Fechar aquele negócio,
visitar tantos clientes,
testar aquela amostra,
fazer aquele pedido.
Não adianta...
O que estou fazendo aqui?
Eu só queria estar com você.
Jogar fora a gravata
e estar só com você...
Sempre...
Foto: http://www.thiagopinheiro.blogger.com.br
terça-feira, 14 de outubro de 2008
Olga Savary

Quero apenas
(Olga Savary)
Além de mim, quero apenas
essa tranquilidade de campos de flores
e este gesto impreciso
recompondo a infância.
Além de mim
- e entre mim e o deserto -
quero apenas silêncio,
cúmplice absoluto do meu verso,
tecendo a teia do vestígio
com cuidado de aranha.
(Olga Savary)
Além de mim, quero apenas
essa tranquilidade de campos de flores
e este gesto impreciso
recompondo a infância.
Além de mim
- e entre mim e o deserto -
quero apenas silêncio,
cúmplice absoluto do meu verso,
tecendo a teia do vestígio
com cuidado de aranha.
Foto: http://www.parafelicidade.blogspot.com
Certeza

Certeza
Despesso-me das alegrias,
tal qual as flores em final de primavera.
Já não me cabe sorrir impunemente.
Já não adormeço com a mesma facilidade
de tempos atrás.
Agitadas têm sido as travessias de minhas noites,
como se em agitados mares estivesse navegando.
E navegando contra um vento forte e frio,
embora estando em pleno verão.
Imenso oceano, cuja travessia tem se tornado
mais e mais longa,
mais e mais lenta,
cansativa como nunca.
Os dias, também longos,
vêm desacompanhados de cores,
como se fossem antigos filmes em preto-e-branco,
com enredos tão horríveis quanto a minha realidade.
Também deles não faz parte
qualquer tipo de música.
Nem poesia, sequer.
Ruído. É o que permanece,
é o que resta.
Será isto uma espécie de ritual de passagem
entre a vida embebida em sonhos
e a nua, assustadora e decepcionante
vida real?
Momento de me identificar com o vácuo,
com a ausência de tudo.
Tempo de me encontrar com o nada
e com ele, me confraternizar, para selar
a indissolúvel parceria que entre nós
está nascendo.
Cada vez mais distante,
melhor sepultar as ilusões
que me fizeram confundir
sobrevida com felicidade,
átimo de tempo com eternidade.
Dá-me tua mão, tédio.
Conta comigo o tempo que resta.
Caminha comigo e com todos os meus fantasmas.
Simula meu passo trôpego.
Caminha sem destino, como eu.
Dá-me tua mão.
Despesso-me das alegrias,
tal qual as flores em final de primavera.
Já não me cabe sorrir impunemente.
Já não adormeço com a mesma facilidade
de tempos atrás.
Agitadas têm sido as travessias de minhas noites,
como se em agitados mares estivesse navegando.
E navegando contra um vento forte e frio,
embora estando em pleno verão.
Imenso oceano, cuja travessia tem se tornado
mais e mais longa,
mais e mais lenta,
cansativa como nunca.
Os dias, também longos,
vêm desacompanhados de cores,
como se fossem antigos filmes em preto-e-branco,
com enredos tão horríveis quanto a minha realidade.
Também deles não faz parte
qualquer tipo de música.
Nem poesia, sequer.
Ruído. É o que permanece,
é o que resta.
Será isto uma espécie de ritual de passagem
entre a vida embebida em sonhos
e a nua, assustadora e decepcionante
vida real?
Momento de me identificar com o vácuo,
com a ausência de tudo.
Tempo de me encontrar com o nada
e com ele, me confraternizar, para selar
a indissolúvel parceria que entre nós
está nascendo.
Cada vez mais distante,
melhor sepultar as ilusões
que me fizeram confundir
sobrevida com felicidade,
átimo de tempo com eternidade.
Dá-me tua mão, tédio.
Conta comigo o tempo que resta.
Caminha comigo e com todos os meus fantasmas.
Simula meu passo trôpego.
Caminha sem destino, como eu.
Dá-me tua mão.
Foto: http://www.crying_angel.blogs.sapo.pt
Eterna namorada

a
neste porto tão distante,
e você, barca atracada,
não mais navegarias,
a mim ficarias eternamente ligada.
Fosse eu um sonho,
nesta noite tão calma,
e você, doce sonhadora,
somente despertaria,
na manhã, bem cedo, depois de me sonhar.
Fosse eu distante destino,
nesta estrada tão comprida,
e você, incansável viajante,
cedo ou tarde chegaria,
a mim, destino certo, queiria te acolher.
Fosse eu vida feliz,
repouso de minha amada,
e você, a quem sempre quis,
dona da minha vida,
minha eterna namorada...
Foto: http://www.viagemeturismo.abril.com.br
Te amo sem dizer...

Te amo sem dizer...
Ao contrário de ti, que gosta de luzes,
amo a penumbra, a escuridão.
Nela é doce abandonar o já e
pensar na imensidão.
Ao contrário de ti, que adora agitação,
amo o silêncio, o absoluto calar.
Nele é puro prazer me perder,
me deixar viajar.
Ao contrário de ti, que ama falar,
me calo por completo, não falo.
Assim consigo ouvir o amor,
escutá-lo.
Ao contrário de ti, que diz me amar,
te amo sem dizer, sem contar.
Assim minha alma te abraça,
meu coração te enlaça...
... Nem preciso falar!
Foto: http://www.happy-stiletto.blogspot.com
Assinar:
Postagens (Atom)