Escondem-se,
por trás daquele relógio imenso
- aquele ali da praça, sabe? –
tantas indefinições, dúvidas
e medos,
quê,
esquecê-las ali,
em lugar tão remoto,
parece mesmo ser a melhor solução.
Só não conseguimos esconder
tudo isto do Tempo,
que o mesmo relógio
conduz...
ilustração: t3.gstatic
deixa marcado no tempo,
gravado na pele,
no descanso dos olhos,
atentos,
toda sorte de feitos.
em nome da rosa,
da febre e
do sumo de todas
as esperanças!
ilustração: t0.gstatic
Será que
aquele sorriso franco,
cativante, espontâneo
que tanto me encanta
e que parece trazer
a luz do sol para
um pouco mais perto de mim
só cabe naquele velho
porta-retrato?
ilustração: t0.gstatic
Do livro "Marina", recém editado no Brasil
"Uma bicicleta emergia lentamente da bruma. Uma menina usando um vestido branco descia a encosta pedalando na minha direção. Na contraluz do amanhecer, eu podia adivinhar a silhueta do seu corpo através do algodão. Uma longa cabeleira cor de feno ondeava escondendo o rosto. Fiquei ali, imóvel, contemplando-a enquanto se aproximava, como um imbecil com ataque de paralisia. A bicicleta parou a uns 2 metros de mim. Meus olhos, ou talvez a minha imaginação, adivinharam o contorno de pernas esguias tentando alcançar o chão. Meu olhar subiu por aquele vestido que parecia saído de um quadro de Sorolla e foi parar num par de olhos de um cinza tão profundo que alguém poderia cair lá dentro. Estavam cravados em mim com olhar sarcástico. Sorri e ofereci minha melhor cara de idiota".
Construía castelos
bem acima das nuvens.
Passeava por lá, às vezes,
depois de erguidos.
Ficava encantado com o que via.
Sempre!
Reiniciava a construção,
assim que um deles ruía...
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Eles dançavam na calçada,
onde ninguém fazia isso.
Eles desafiavam as estrelas,
onde elas mais brilhavam.
E cantavam canções de amor.
Onde ele nunca existiu...
ilustração: La danse with nasturtiums - Henri Matisse
Anda pela casa o fantasma
de que lhe falei.
Assombra quem ainda não o conhece,
quem dele não teve notícia.
Se esquiva de quem,
desconfiado,
pede para vê-lo.
Acanhado, talvez!
Ou com muito medo dos vivos...
ilustração: data:image
São assim mesmo
as marés.
Sempre foram.
Previsíveis, mas
arrasadoras,
algumas.
Como as mulheres
essenciais!
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Sorrisos que encantam os anjos,
olhares que oferecem lagos azuis.
De águas tão frescas,
de sombras tão tristes.
Apesar de tudo,
teus olhos sorriem!
Ilustração: t0.gstatic
E pensar que,
por vezes,
muitas vezes,
fechamos os olhos
calados, seguros,
ingênuos,
pensando que a noite
sería sem preço,
apenas de sonhos...
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Por que, teimosamente,
minha voz procura
encontrar a tua
em doces e amargas
madrugadas?
Por que a voz tão rouca
não se cala
e deixa passar tua voz,
arredia,
que insiste em me
evitar?
ilustração: t0.gstatic
resta esta voz rouca
repetindo palavras gastas
ditas, já, centenas de vezes.
resta este olhar desgastado,
envelhecido, opaco,
que insiste em não ver...
resta este homem cansado,
este sinuoso caminho
e um destino distante demais.
de sonho, nada resta, afinal!
ilustração: t3.gstatic
Em tempos e noites
de nada,
a vida se corrompe
de vazios
e a solidão consagra
o fim das certezas
e o batismo da
amargura...
ilustração: t0.gstatic
Tantas estrelas gritando
luzes, clareando esta noite
tão quente, vigiando gentes.
Parecem, distantes, silenciosas,
saber segredos,
de cada um de nós...
ilustração: t0.gstatic
Mia Couto
Escritor moçambicano.
Do livro "A chuva pasmada"
Ante o frio,
faz com o coração
o contrário do que fazes com o corpo:
despe-o.
Quanto mais nu,
mais ele encontrará
o único agasalho possível
- um outro coração.
Foto: Mia Couto
Desafio chuvas,
temporais.
Reinvento lutas,
vendavais.
Apenas pelo
prazer
de me alimentar
de todos os segredos
da vida!
ilustração: t3.gstatic
As janelas,
de correrem para as laterais,
foram completamente abertas
e o ar da tarde
invadiu o ambiente da casa
e,
embora um tanto quente,
trouxe nova vida ao quarto,
onde estava recluso.
Era como se os dias atuais,
sem serem perfeitos,
afastavam os velhos tempos,
trazendo a renovação
e
todas as novas esperanças...
ilustração: t2.gstatic
Não cabem no tempo
todos os verbos que
conjuguei,
nem toda a pressa
que o mundo tem.
Não cabem no tempo
os olhares, assim,
perdidos,
nem as vidas, assim,
vazias...
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Ser, desta tarde tão quente,
apenas paisagem...
Quisera!
Sem impedir sua passagem,
sem impedir seu calor.
ilustração: autor - manucardoso
Todas estas tardes vazias.
O café forte e quente,
sorvido sem pressa,
sem culpa.
A caminhada pela mesma avenida.
Vitrines, gente e carros
a serem vistos.
Jornais e revistas, pendurados,
expondo escândalos e violência.
O sol implacável,
olhares cansados,
a sombra a ser desfrutada.
O intenso barulho.
E a noite que chega.
Tomara seja ela
tão vazia quanto aquelas tardes...
ilustração: t0.gstatic
Que adianta lamentar a noite perdida?
Que fazer em noite tão só?
Lembrar-se do tempo de colégio e,
como bom estudante,
aprender a lição...
ilustração: t0.gstatic
Quantos sóis mais terei
de esperar
até que teus olhos se fixem
em mim?
E quantas noites mais,
com ou sem lua,
até que teu coração
também o faça?
Diz que o tempo será breve
e que luas e sóis são
escravos de nossas almas
e que, porisso,
não mais nos farão esperar...
ilustração: t0.gstatic
Claras imagens,
sonhos de conquistas.
Montanhas, serras solitárias,
íngremes, distantes.
Vales profundos,
enormes desfiladeiros,
o céu ao alcance das mãos...
Tal qual as mais puras
verdades,
inalcançáveis...
ilustração: t3.gstatic
os homens se encheram
de orgulhos,
quase unicamente arrogantes
e entenderam-se donos
das vidas.
e os deuses da virtude
lhes mostraram as
areias de seus caminhos
e os espinhos de suas
almas.
calaram-se, então...
... profundamente
arrependidos!
ilustração: t0.gstatic
Tem os olhos fixos,
desmaiados no horizonte
e já nem fala.
Esvazia-se em lembranças,
em páginas há muito escritas.
Já nem sabe se ainda guarda estas páginas
ou,
se como a vida,
melhor sería rasgá-las...
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Nada o fazia mover-se.
Nem chuva inundante,
nem sol sufocante,
nem congelante noite...
Cumpria o que havia jurado:
sería um morto em vida,
um ser transparente,
um nada, mesmo...
Cansara de nunca ter sido
notado e,
ao contrário de tantos outros,
decidira-se:
nem chuva,
nem sol,
nem gelo...
ilustração: t3.gstatic
Naquele vale,
onde as sombras parecem eternas,
o silêncio habita
e se faz constante.
Lá, o sol é tímido,
assustado...
Prevalece o frio do amanhecer
e um vazio igual
ao dos velhos corações.
Há muito que
é lá o meu refúgio...
ilustração: t3.gstatic
e deste mundo
torpe
carrego sorrisos falsos,
finas ironias e
apuradas grosserias.
tenho aprendido
truques e
diferentes disfarces
que me tornam
habitante hábil
desta selva
salva...
... que me deu você!
ilustração: t3.gstatic
Não guardava segredos.
Qualquer que fosse.
Revelava-os
com aquele prazer
que só as crianças
sentem,
por serem sempre
verdadeiros
seus prazeres!
Não guardava segredos.
Distribuia-os
com um sorriso
de criança
estampado no coração!
ilustração: t1.gstatic
Mil vezes dançamos
a mesma melodia.
Passos suaves,
sincopados,
rostos colados.
Ainda assim,
não aprendi
a te conduzir...
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Só mesmo ventos,
tão fortes,
para expor o que
minha alma,
convulsa,
teima em esconder.
Deliram meus olhos.
Ainda,
irremediavelmente teimoso,
acredito em você...
ilustração: data.image
Sabia das escolhas que tinha de fazer,
dos mares a navegar,
dos caminhos e rotas a escolher,
singrar.
Os barcos e ventos,
calmarias e tempestades
não saberia prever.
O destino,
este ele queria alcançar,
queria tomar,
dominar.
Valia, tinha certeza,
as lutas e dores e lágrimas e sangue
que tivesse de provar e verter.
Era um homem de fé,
um bravo...
Não deveria ser assim a vida de
um lobo do mar?
ilustração: t1.gstatic
Ali, abandonado ao sol,
inerte,
testemunhando a movimentação
das pessoas,
cegamente apressadas,
cada qual em sua faina.
E os carros,
atrevidos, ruidosos, brilhantes, coloridos,
a disputarem, violentos,
cada centímetro.
E os relógios, velozes,
querendo chegar com tanta pressa
a
lugar nenhum.
Ali, abandonado ao sol,
inerte,
ele sente, sabe, que tudo segue
dentro da normalidade...
ilustração: t3.gstatic
Esconde do tempo as marcas
que ganhaste pelo caminho.
Dissimula todas as lágrimas
que te fizeram companhia.
E sorri para o mundo,
o sorriso que tua alma
não sente...
ilustração: t2.gstatic
De silêncio pode, sempre,
um homem se alimentar.
E deitar sua face
e dormir reconfortado.
Da brandura do silêncio
se tiram muitas lições,
muitos saberes.
Da doçura do silêncio
que você repentinamente
deixou, tiro a força para
sobreviver tua ausência...
ilustração: t0.gstatic
Vem de longe este olhar agudo,
este brilho ponteagudo
no olhar.
E estas palavras inquietas,
um questionar amargo,
incisivo,
fantasmas que queimam
e dão o que pensar...
O tempo também fornece
facas e punhais,
constrói dúvidas e questões,
de forma mais urgente,
mais premente
do que respostas ideais...
ilustração: t0.gstatic
Uma voz clama no deserto,
com o mesmo timbre
do meu grito.
E as areias ardentes,
não conhecem gritos
ou sorrisos.
Conhecem o escaldar do sol,
dia-após-dia...
Nada interfere na sequência
dos dias,
na alternância das noites
geladas.
Uma voz,
sempre a mesma,
clama no deserto.
ilustração: t3.gstatic
a casa segue vazia.
a poeira,
em tudo depositada,
atesta este antigo
abandono.
vozes não são ouvidas.
nem lamentos.
nem sorrisos.
a casa segue vazia,
tanto quanto a
verdade!
nenhum encontro
se dá nesta casa!
nenhum encontro
se dá de verdade!
ilustração: t2.gstatic
Não basta a claridade
da lua para impedir o
total negrume na noite...
Sem o brilho dos teus olhos,
de nada serve o pobre
luar...
ilustração: t3.gstatic
Passa já do tempo ideal
para que toda esta farsa
seja substituída
pela claridade
de olhos
infantis...
Não se pode adiar esta mudança,
sob pena de que
esta criança, em breve,
crescerá
e que, assim,
todas as esperanças serão vãs...
ilustração: dataimage/jgp.base64
Grita tua dor
em cenários de teatro
mambembe
e finge,
interpreta,
teu grande papel,
teu grande espetáculo.
Assim se faz a
vida.
Como grandes atores
em premiadas
e grandiosas produções,
nos salões paroquiais de bairro...
ilustração: t1.gstatic
Misturam-se
as memórias do passado
e já a minha vida
torna-se um rio
que obedece seu leito
docilmente...
Foram-se os tempos de
rebeldia.
Calou-se a voz da discórdia...
O tempo, este Senhor
imperativo,
intempestivo, cuidou de
me dar freios aos
instintos...
E a botar mel
nas minhas palavras...
ilustração: t1.gstatic/James Dean
Enquanto conduz seu barco
pelos mares que a camponesa
conhece,
vai o barqueiro seguro
de que não há águas
como estas...
E fica a camponesa
a sorrir:
não há, ela sabe,
barqueiro mais diligente...
De resto e
tão simples,
caules, hortas, gardênias,
mares,
prazeres que a vida
descobre...
ilustração: t1.gstatic
O sol já busca no horizonte,
lugar onde se esconder.
Como faz todo final de tarde.
E é porisso que
insisto em permanecer à janela,
vigiando o céu,
certificando-me que ele perderá,
em breve,
toda a claridade que carrega
desde esta manhã.
As sombras não tardam.
E é nelas que se concentram
todas as minhas esperanças de que,
como a lua, você virá.
Como a lua cheia, você virá...
Se alegrarão, assim, os gatos,
os bêbados, os vagabundos e
os poetas...
Todos os que amam o luar...
E eu!!!
ilustração: t2.gstatic
A espera se faz
Senhora do tempo,
soberana, impiedosa...
E exerce seu domínio,
caprichosa,
sistemática.
Conduz plebeus,
todos,
numa lenta agonia...
Não mais se respira.
Não se vê nada, nem fim,
apenas os olhos da Senhora...
Por todo o tempo!
Ilustração: t3.gstatic
Nada mais que uma
miragem,
tu és efeito deste terrível
calor
que nada consegue aplacar...
Nem tua bela e ilusória
imagem...
ilustração: t0.gstatic
Chega agosto
e com ele os ventos frios,
tão secos,
tão fortes...
E incomodam, assustam,
porisso.
Chega agosto
e com ele os ventos
que assustam
como se fosse
o tal do verdadeiro
amor,
que de tão forte,
assusta...
ilustração: t3.gstatic
Risco
e rabisco
e arrisco
e esqueço
e recomeço,
me enterneço
e não mais quero
e sou sincero
eu não mereço...
Então
risco e rabisco
e escrevo e
não digo.
Afinal,
acho que nem vivo...
ilustração: t0.gstatic
Fosse eu cavaleiro,
romântico,
como aqueles cavaleiros dos filmes antigos,
em preto e branco,
cavalgaria toda a noite,
todas as noites da vida
(duas ou três vidas, até!),
para buscar repouso.
Ando cansado,
deprimido, até...
Cavalgaria desde os tempos
daqueles filmes até hoje,
só pra descansar,
vencer o tempo
Só pra me deitar,
descansar,
na rede dos teus olhos...
ilustração: t1.gstatic
Ainda teimo em pensar,
mesmo que me sobrem
apenas amarguras,
se é da vida parte
importante.
Ainda quero fugir,
falhando em tantas
tentativas,
talvez com medo
de teus olhos
perder...
Ilustração: t0.gstatic